O grande debate sobre a origem da vida continua a desafiar a ciência. A cada nova descoberta, sabe-se apenas que sabemos menos do que antes. O tema é simples e envolve a humanidade, mas a dúvida é a mesma do homem da caverna: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
No Brasil de hoje, a fraude da salmonela em carnes exportadas e os habituais abusos no governo e na política repõem o mesmo debate sobre "quem nasceu primeiro". A malandragem privada imita a safadeza pública, ou ao contrário? A verdade é que quase tudo se torna engano e mentira. Ou, à medida que dê lucro, o falso passa a valer até mais do que o verdadeiro…
Minuciosa investigação da Polícia Federal comprovou que o maior grupo do setor de carnes, que reúne Sadia, Perdigão e Qualy, falsificou laudos sanitários e vendeu produtos infestados de salmonela, pelo menos de 2012 a 2015. Não foi “acidente”. A contaminação era parte do processo final e começava na ração distribuída pela empresa aos criadores de frango e suíno.
Na alimentação, o respeito à ética deve ser absoluto, sem frestas. Uma camisa de brim nos tapa como uma de linho, mas comer algo contaminado é uma brutalidade em si. A cobiçosa visão de lucro fácil a qualquer custo torna-se crime atroz e continuado. Aqui no Sul, milhares ainda sofrem sequelas do leite adulterado, em 2014, com soda cáustica e outras pestilências.
Quem nasceu primeiro?
As fraudes na área pública crescem num ritmo tal, que, quando surge o clímax, logo brota outra mais terrível. Agora, chegamos ao auge absoluto: a polícia insistiu e o Supremo aceitou quebrar o sigilo bancário, fiscal e telefônico do presidente da República para investigá-lo pela “medida provisória” que deu bilhõe$ à empresa Rodrimar no porto de Santo$.
Quebrar o sigilo bancário do chefe de Estado já é, em si, suspeição tão grave quanto eventual condenação. Não se espere, porém, encontrar nas contas de Temer nada além do que declarou ao imposto de renda.
Se ele estiver comprometido, como aponta a investigação, o$ benefício$ jamais trilharam caminhos legais. O crime não remunera em conta bancária. Usa os subterrâneos do próprio crime. Ou guarda em casa, como os R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel.
Se nem a salmonela é visível, o que dizer de outros bichinhos?
P.S. – Na terça-feira, dia 13, dou meu testemunho sobre os 50 anos dos protestos estudantis de 1968, em debate, às 19h, no auditório 219 do Campus 1 da Ulbra, em Canoas.