Descobrir uma banda nova é bom, mas descobrir uma banda antiga é melhor ainda, porque já vem com o carimbo de qualidade da história. E este é um momento oportuno para voltar ao Grateful Dead, agora que Robert Hunter, letrista de canções como Uncle John's Band, Dark Star e Truckin', nos deixou, aos 78 anos. Hunter não era um autor qualquer. Houve um tempo em que ele não permitia que suas letras fossem publicadas junto com os discos para que os fãs tivessem a possibilidade de entender os versos de forma errada, colocando um pouco de si na experiência.
É dele o verso "What a long, strange trip it's been", que inspirou o título do documentário Long Strange Trip (2017), cinebiografia do Grateful Dead que tem Martin Scorsese como um de seus produtores e quatro horas de duração. Aliás, tudo que envolve o Dead era épico. Como não se deliciar com a viagem de cerca de 10 minutos de um cover de Not Fade Away (Buddy Holly/Norman Petty), originalmente uma canção de dois minutos e pouco? Faixas de estúdio curtas podiam durar até 30 minutos em um show, como era o caso de Dark Star. Em um artigo inteiramente dedicado a este clássico, Jennifer Finney Boylan escreve que nenhuma versão ao vivo é igual à outra. O mesmo pode ser dito de tudo que a banda gravou.
Ouvir os álbuns de estúdio é obrigatório, nas ninguém pode dizer que conhece realmente o Grateful Dead sem ter ouvido um pouco das inúmeras gravações ao vivo disponíveis nas plataformas de streaming. O Dead precedeu o Pearl Jam na criação de um rock sem artifícios, com setlists imprevisíveis, de modo que cada show era sempre uma surpresa. Hoje, a fartura de registros oficiais ao vivo é um labirinto delicioso para os ouvintes se perderem. Não há um atalho para os grandes hits, é preciso viver a experiência completa.
O Grateful Dead costuma ser visto como um antípoda do Velvet Underground, mas ambos têm muito em comum. Começaram se chamando Warlocks e tiveram de mudar de nome quando uma terceira Warlocks gravou um disco. Tanto o Dead quanto o Velvet tinham um viés experimental, entregando aos ouvintes longas improvisações. Claro, cada uma tinha um símbolo à frente: Jerry Garcia no Dead e Lou Reed no Velvet. E deixaram muitos fãs saudosos.