Uma das características das pessoas que escrevem bem, pelo que vejo entre as que eu admiro, é que elas nunca param de aprender. Você vai me dizer que isso vale para qualquer coisa na vida, e eu concordo, mas há um mito de que escrever bem é uma qualidade que se aprende uma vez e dura para o resto da vida. Mais ou menos. Para quem escreve em português, nem mesmo as regras gramaticais duram muito tempo. Outro mito: escrever bem é um talento que se tem ou não tem. Sem dúvida, algumas pessoas são especialmente habilidosas, mas qualquer um pode melhorar seu texto ao acessar ensinamentos úteis. Agora, o que é útil?
Há um mês, debati neste espaço a sutil fronteira entre o texto acadêmico complexo e o que é simplesmente mal escrito – nem sempre essa diferença é facilmente percebida pelo leitor leigo. Acabei não abordando aquele que me parece ser um dos maiores males: a ideia de que escrever bem seria uma concessão “comercial” demais para um acadêmico sério. Há uma antiga e louvável tradição de professores que transitam pela imprensa (poderíamos citar vários), mas uma parte simplesmente tem alergia à possibilidade de se dirigir ao chamado público em geral. Falar em estilo de escrita pode até ser visto como uma heresia para alguns, uma interferência na transmissão do pensamento.
Qual é a diferença entre escrever de forma “acadêmica” e “jornalística”? No segundo caso, você deve pensar no leitor. E isso muda tudo. Alguém pode fazer uma carreira acadêmica escrevendo apenas para pessoas que são obrigadas a ler seus textos: o orientador, a banca, o parecerista da revista científica. Mas confesso que não gosto muito dessa diferenciação entre escrita acadêmica e jornalística, pois todos ganhariam se, ao escrever academicamente, o autor também pensasse no leitor: o leitor do artigo da revista especializada (que pode ser compartilhado até nas redes sociais), o leitor do livro baseado na tese de doutorado e, por que não, o leitor do ensaio jornalístico explicando as descobertas de sua pesquisa.
Estamos acostumados a pensar que, para escrever bem, precisamos conhecer as regras ortográficas e os diferentes gêneros de texto. Isso é importante, mas é apenas a caixa de ferramentas. Além disso, há o emprego dos elementos de estilo, a consciência sobre quem é o grupo de leitores e, principalmente, a clareza sobre o que torna o argumento inovador.