Quem já cursou uma pós-graduação, ou mesmo quem leu certos livros de filosofia por conta própria, talvez tenha deparado com um tipo diferente de texto: linguagem de difícil compreensão à primeira vista, às vezes bastante hermética, que exige leituras correlatas para ser compreendida. Essas características são frequentemente associadas à filosofia francesa da segunda metade do século 20, produzida por nomes como Deleuze, Derrida, Foucault e Barthes, mas quem já deu uma espiada nos clássicos alemães, como Kant, Heidegger e Hegel, percebeu que a questão é mais antiga.
Existe algo sedutor nessa língua estrangeira, presente nas áreas da filosofia e da teoria da cultura, que desperta nos mais aventureiros o desejo de realmente se esforçar para aprender. Muitas vezes, uma ideia complexa exige uma linguagem igualmente complexa para ser expressada com profundidade, de forma que a difícil travessia é recompensada ao final com um novo conhecimento sobre como funciona o mundo e as pessoas.
Acontece que, para alguns seguidores, escrever e falar difícil se tornou um exercício estéril que pode provocar o afastamento dos potencialmente interessados. Se pensarmos que muito da tarefa do pensamento é construir um mundo melhor, seja lá o que se entenda por isso, é interessante acolher os recém-chegados. Mas essa reflexão cabe a muitos domínios do conhecimento. Um texto que deveria contextualizar uma exposição de arte, dependendo de como é escrito, pode dar um nó na cabeça até mesmo do mais erudito visitante.
Existe ainda outro tipo de texto difícil de ler, e que é relativamente pouco comentado: o texto simplesmente chato ou, sejamos diretos, mal escrito. Para o leigo pode ser difícil distinguir, mas um pouco de vida universitária nos prepara para a tarefa. É como se um texto acadêmico não devesse ser também um bom texto, ou como se houvesse um divórcio entre ideia e estilo. Mas essa é uma diferenciação antiquada. Os melhores autores são aqueles que têm algo interessante a dizer e um jeito interessante de expressá-lo. Se você decidir escrever difícil, é bom reservar para o leitor um pote de ouro ao final do arco-íris.