São muitos os sinais da passagem do tempo – vamos chamar de maturidade – na vida de uma pessoa. Cabelos brancos, barriguinha, vontade de ficar em casa e a opção por hospedagens mais confortáveis nas viagens de férias. Todas são mais ou menos esperadas. Você nunca está preparado é para ver os livros da sua biblioteca envelhecerem.
Assim, de uma hora para outra, alguns estão com as bordas das folhas amareladas, quando não pintadas com aquela ferrugem que antes decorava apenas os exemplares adquiridos em sebos. Livros que estavam novinhos ontem mesmo, na década de 1990, agora se revelam – não digo acabados, mas sofrendo nas mãos do destino (desculpe o drama). Mesmo que você cuide, mesmo que você goste ou até ame, os livros sempre envelhecem.
Você tenta encontrar uma lógica: o tipo de papel, a editora, a data de publicação, a forma de armazenamento. Mas nada, não tem sentido, não pelo menos na sua cabeça. Você simplesmente tem de aceitar, é a seleção natural. E agradeça que as traças não deram as caras.
Perdão se fico aqui um pouco mais brega, mas livros são como filhos: você cuida desde o início, espera aprender muito com eles e uma hora olha para trás e acha que gastou dinheiro demais com isso. Mas jamais se arrepende. Claro que você tem os seus preferidos (calma, aqui já terminou a comparação com os filhos), mas cuida de todos com o mesmo zelo.
É naquela hora, naquela horinha exata em que constata que alguns estão na terceira idade que você vai para o YouTube em busca de ajuda. E descobre que conservar uma biblioteca, por menor que seja, é uma tarefa das mais complexas. Se quiser fazer um trabalho bem feito, você precisará de uma flanelinha para limpar um a um, um pincel para espanar o pó, uma máscara para não aspirar toda a sujeira e até uma lixa de madeira se quiser raspar a ferrugem da bordas das páginas (não testei, depois eu conto). Talvez você devesse ter na sua biblioteca um livro sobre isso.
Será que é a hora de se desfazer de tudo e comprar logo um leitor de livro eletrônico? Não, você não seria capaz. No máximo, as duas tecnologias conviveriam na sua casa. Nada substitui – não pelo menos agora – os livros organizadamente dispostos nas prateleiras da biblioteca, sempre à mão para leitura, consulta ou apenas um cheiro. Sim, é isso. Você deveria passar mais tempo com seus livros, folheá-los, levá-los para dar uma volta. Quem está o tempo todo junto não vê envelhecer.
