Sinto certo ceticismo ao ler artigos da direita ou da esquerda moderadas sobre a ofensiva moralista em curso. Estudiosos têm divulgado as mais interessantes reflexões sobre o difícil tempo em que vivemos, as quais eu imagino que atinjam certo público aberto ao questionamento. Mas a cruzada que busca justamente calar essas vozes sensatas e críticas não funciona pela lógica da razão. Busca, pelo contrário, incitar o ódio de seus seguidores, conclamando o linchamento virtual de seus adversários de ideias, que passam a ser tratados como inimigos a serem eliminados.
Os espíritos que se curvam a esse chamado passional, irracional e destrutivo não estão interessados em reflexões que possam colocar em xeque suas certezas. Querem alguém para culpar, um líder para seguir, uma solução fácil para os problemas do Brasil e do mundo. Estão mais interessados em ler notícias falsas que reforcem suas posições do que informações que revelem a complexidade da realidade. Se os artigos esclarecedores dos estudiosos não encontram leitores entre os franco-atiradores da internet, o que podemos fazer?
Correndo o risco de parecer ingênuo, acredito que o melhor dos mundos é uma solução de longo prazo: fortalecimento da educação, políticas de diminuição da desigualdade e investimento em pesquisa e inovação. Mas isso parece cada vez mais distante em um momento de completa descrença da sociedade em relação ao establishment, ou seja, em todo esse sistema que deixa uma fatia enorme de pessoas de fora da globalização.
Então, o que pode ser feito imediatamente? Veja, também estou aqui escrevendo aquele tipo de texto que acabo de argumentar que tem efeito limitado, embora positivo. Devemos, sim, continuar fazendo esse trabalho de formiga. Podemos também ajudar a fortalecer pensamentos e movimentos apartidários de mudança social. Parar de trocar ofensas nas redes sociais me parece uma boa ideia. Xingar de burras as pessoas que pensam diferente de você ou tratá-las como inferiores apenas aprofundará as diferenças – é uma forma de piorar o debate. O argumento racional não pode morrer. Só assim conseguiremos substituir o ceticismo pelo otimismo.