Em um encontro de família, dias desses, andei folheando álbuns de fotos da minha infância. O pai era muito organizado, então está tudo etiquetado e numerado, fácil de consultar. Registros do nascimento, dos três anos, dos quatro, por aí. Tempos dos grandes álbuns de capa dura e das fotos em papel. De fato, algumas já estão esmaecidas, precisamos escanear. Outras estão até meio borradas, pois, dependendo do equipamento, não era possível prever a qualidade da imagem. Tempos da câmera fotográfica analógica, quando era preciso calcular cada clique para não desperdiçar filme.
Daí me dei por conta – parece óbvio agora – de que nada disso está na internet. Pelo menos que eu saiba. Tampouco há rastro digital dos desenhos de jogadores de futebol, músicos e monstros que fiz na infância, da banda de rock que criamos no Ensino Médio (na época, Segundo Grau) ou dos constrangedores trabalhos em grupo gravados em fitas de videocassete. Ainda bem.
Tem coisas que devem ficar mesmo escondidas. Não porque sejam necessariamente desabonadoras, mas porque pertencem ao passado e não dizem respeito ao que somos hoje. O senso comum sobre privacidade mudou radicalmente na última década, quando as redes sociais começaram a se popularizar. Fiquei surpreso ao descobrir que há um garoto que é youtuber – e "de sucesso" – desde os cinco anos.
Não cairei na armadilha de dizer que era melhor no meu tempo, pois a gente sempre acha que é: me interessa mais entender a mudança que está ocorrendo. Mas talvez só tenhamos uma noção palpável daqui a muito tempo, quando aqueles que naturalmente compartilham sua infância e adolescência nas redes sociais serão adultos e poderão nos dizer como se sentem de ter o passado disponível para a consulta de todos: futuros amantes, recrutadores, analistas de crédito, gestores de planos de saúde.
Uma coisa é pesquisar o passado da atividade de um político: ele deve, sim, explicações de suas declarações e atos que sejam de interesse público. Outra coisa é vasculhar a vida pregressa de uma pessoa seja lá por qual motivo pouco nobre. Cada geração tem necessidades e anseios diferentes da anterior. A questão é encontrar um equilíbrio entre a experiência dos pais e o arrojo dos filhos. Na ausência de respostas prontas, o que resta é tentativa e erro. Gostaria de dizer simplesmente que sou otimista, mas imagino que haverá perdas e ganhos.