Sem que percebêssemos, o debate intelectual parece ter regredido ao tempo da Guerra Fria em algumas instâncias. De repente, tem gente novamente com medo do comunismo – e, de outro lado, gente vendo fascismo em tudo. Não há nada que empobreça mais uma conversa do que ter que escolher entre Marx e Mises. Mas isso é o que acontece quando a propaganda ideológica ocupa o lugar da reflexão.
A moda agora é escolher um autor para demonizar: se você lê Mises, Hayek e Milton Friedman, não pode ler Marx, Keynes e Paul Krugman – e vice-versa. Mas não é assim que se estuda a história das ideias. O preconceito ocorre quando você se contenta com o que dizem por aí. Por isso, o primeiro passo (bastante simples mas pouco praticado) é simplesmente ler o autor odiado. Não há pensamento que seja 100% descartável. Muitas ideias que parecem óbvias ou até equivocadas hoje tiveram importância em seu tempo. Por isso se lê Marx até hoje. Por isso, está havendo um interesse renovado em Mises. Para ficar apenas no plano econômico, há muito mais do que a dicotomia entre os dois autores que começam com "m". Há Adam Smith, Schumpeter, Polanyi, Piketty e outros.
O que está se perdendo nessa redução do debate de ideias à guerrinha ideológica é sem dúvida a empatia, quer dizer, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Quando você realmente se interessa em ouvir o que seu interlocutor tem a dizer, o preconceito passa a não fazer mais sentido.
Mais do que isso, não há autor que sobreviva incólume ao teste do tempo. Uma obra invariavelmente será motivo de comentários, críticas e correções. Por isso, não se apegue demais ao seu pensador favorito. Leia também o que os outros têm a dizer.