Nunca antes na história deste país se escreveu tanta crítica cultural: crítica de teatro, de música, de cinema, de artes. Esse nobre ofício, que já desfrutou de grande prestígio e andou ameaçado de morte, hoje voltou a ter competentes representantes. Não sei quanto ao número de leitores, mas a mera existência de (bons) críticos é o primeiro passo.
Leia mais
Fábio Prikladnicki: A reinvenção da crítica teatral
A crítica e os críticos
Kil Abreu: O legado de Sábato Magaldi
Com a diminuição da oferta de veículos de comunicação tradicionais, houve quem pensasse que a crítica estivesse com os dias contados. Os últimos anos, entretanto, foram de contra-ataque: surgiram na internet muitos sites especializados. Embora a crítica continue a ser praticada em alguns jornais e revistas, a maior parte dessa produção está online.
Não apenas os suportes mas também a natureza do ofício se transformou. Os textos deixaram de ser uma sentença de julgamento, como faziam os autores de antes, e passaram a ser verdadeiros ensaios, articulando conceitos e relações. Talvez a crítica tenha ficado menos divertida sem alguém enxovalhando o desempenho de um ator ou o gosto de um figurinista, mas não há dúvida de que todos ganham com o novo formato. Com tantas opiniões circulando nas redes sociais, você não precisa de mais uma pessoa lhe dizendo o que ver ou não ver. Mas talvez queira ler um texto que permita refletir sobre um espetáculo.
Como é esperado em momentos de ruptura, a nova crítica às vezes exacerba posições para marcar território. Há quem esnobe um pouco os mestres do passado, esquecendo que eles ainda têm muito a ensinar por meio de seus escritos. E será que precisamos abrir mão por completo do julgamento de valor? Não podemos, quem sabe, continuar brincando com isso, sem tornar o recurso o centro de tudo?
Se a liberdade oportunizou a emergência de críticas criativas, que às vezes parecem pertencer a outro gênero de texto, por outro lado o autor deve estar atento para não tornar o ofício um exercício de egocentrismo. A experiência virou um elemento relevante na contemporaneidade, mas o olhar atento e generoso para o outro ainda é o melhor que a crítica pode oferecer.