
A terça-feira me encontrou atônito entre tantos assuntos que preciso abordar porque meu amigo Alter, o crédulo, aquele que se informa apenas pelo JN, precisa tomar ciência — ele e todos os distraídos. Estava para escrever sobre a dona V. Guardia, de 74 anos, que entrou na baciada de condenações do 8 de janeiro, com pena de 11 anos. Seu “crime”: ter corrido para dentro do Palácio do Planalto, como tantos, para escapar das bombas de gás. Seu drama: definha na cadeia, defecando sangue e precisando de cadeira de rodas para se mover. Mal comecei e soube que o algoz desta senhora, o ministro Alexandre de Moraes, o mesmo que deixou Cleriston Cunha morrer na prisão sem sequer analisar o parecer do ministério público sobre o grave estado de saúde de “Clezão”, foi agora tomado por um frêmito de compaixão. Mandou para casa o deputado Chiquinho Brazão, o homem acusado de mandar matar Marielle Franco.
Nem bem me refiz do choque e eis que vejo o colega de Moraes no STF, ministro Gilmar Mendes, figurar na revista Piauí como o homem da “caneta amiga” que socorre o presidente da Confederação Brasileira de Futebol em processos que, sabe-se lá como e por quê, foram parar na corte constitucional do país. O texto versa, também, sobre os negócios da empresa de Gilmar Mendes e seu filho com a CBF. Na redação do canal esportivo ESPN, um grupo de jornalistas entendeu o óbvio, que aquilo era um escândalo, e trouxe o assunto à tona. A emissora, por alguma razão, decidiu repreender os profissionais.
Se era assunto demais para uma coluna, ficou pior com a eclosão de uma denúncia do jornal O Estado de S. Paulo sobre a escalada do faturamento de uma entidade internacional chamada OEI no Brasil. Já passa de R$ 700 milhões o volume de contratos que a OEI amealhou com o atual governo brasileiro para organizar eventos como a COP-30, em Belém. As contratações deslancharam após dois decretos de Lula que flexibilizam as regras em favor da OEI e permitem que a taxa de administração cobrada pela entidade, antes limitada a 5%, agora chegue a 10%. A OEI tem dois aliados importantes no governo: o atual secretário-executivo do MEC, que já comandou a entidade no Brasil, e a mulher de Lula, Janja, que foi convidada, segundo o jornal, para exercer um posto na controversa organização, alvo de acusações na relação com governos na Colômbia e na Argentina.