
Em qualquer país governado com decência, a sociedade estaria agora examinando quem será o novo ministro da Previdência, em vez de perguntar-se como e por que o atual titular da pasta, Carlos Roberto Lupi, vem se sustentando no cargo desde que o assalto bilionário às aposentadorias do INSS, praticado sob o disfarce de “contribuições” a entidades associativas parasitárias, veio a público na semana passada. Pesa contra Lupi a acusação de ter ignorado, ainda em junho de 2023, um pedido de diligência que lhe fez uma integrante do Conselho Nacional de Previdência Social sobre descontos que aposentados vinham sofrendo, sem a devida autorização, de sindicatos e associações. Naquele ano, o primeiro da gestão de Lula, e de Lupi, o volume de descontos saltou de R$ 706 milhões para quase R$ 1,3 bilhão. Em 2024, o montante retirado dos aposentados mais do que dobrou: R$ 2,8 bilhões.
Coube a um repórter, Luiz Vassallo, a iniciativa de cobrar do governo dados sobre o que chamou de “Farra dos Descontos”. Foi enrolado com evasivas, até que provocou a Controladoria Geral da União. Graças à tenacidade de Vassallo, CGU e Polícia Federal descortinaram as respostas que ele perseguia desde dezembro de 2023. A Operação Sem Desconto, que resultou em 6 prisões e 211 mandados de busca e apreensão, levou à queda do presidente do INSS, apesar dos esforços de Lupi em blindar seu aliado. Os vínculos políticos das entidades beneficiadas, grande parte das quais em situação irregular, são notórios. Uma delas, o Sindnapi, tem como vice-presidente o irmão de Lula, conhecido como “Frei Chico” — embora se chame José Ferreira da Silva e não seja um religioso.
Lupi balança no cargo, mas tem força e sabe usá-la junto a Lula. A já periclitante base de apoio do governo no Congresso teria nova fissura se o ministro caísse atirando. Em 2011, saiu do governo Dilma após uma série de acusações que levaram a comissão de ética pública a recomendar sua demissão. Bancado por Lula, na época, sentia-se inexpugnável para dizer que só sairia do cargo abatido à bala. “Tem que ser uma bala pesada, porque sou pesadão”, bravateou. Com todo seu peso, caiu, e soube-se depois, em 2014, em declaração ao jornal Folha de S. Paulo, que sua couraça vinha mesmo do apoio do então ex-presidente. “Lula me falou: esquece, isso sai na urina.”
Sairá, novamente?