
Em 16 de setembro de 2023, registrei, em ZH, o desconforto dos peruanos com uma notícia que então chegava do Brasil. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, havia decidido anular as delações de Marcelo Odebrecht e de 77 executivos da Odebrecht firmadas no âmbito da Operação Lava Jato. Fez mais: de forma também monocrática, isto é, sem consulta a seus colegas de corte, Toffoli inutilizou a montanha de dados que os investigadores brasileiros colheram em um certo setor da Odebrecht, a área de “Operações Estruturadas” – ou “Departamento de Propinas”, como ficou conhecida nas entranhas do poder. De uma penada, Toffoli obstaculizava a persecução penal de corruptos que atuaram e ainda atuam não só no Brasil mas em vários outros países onde a Odebrecht ganhou contratos com as bençãos do PT, o partido que alçou Toffoli, duas vezes reprovado em concurso para juiz, à suprema corte.
E o que os peruanos tinham com isso? A resposta estava na capa do jornal Perú 21, que à época estampou uma grande imagem de Lula sorridente, acompanhada do rosto de Dias Toffoli. A manchete, em vermelho, dizia o seguinte: “Que no nos passe lo mismo”, referência aos desdobramentos da Lava Jato no Peru. O subtítulo da reportagem descrevia o ato de Toffoli em termos constrangedores: “La impunidad de la mano de la política: un juez socialista entierra el caso Lava Jato en Brasil para salvar a Lula.”
Se Lula se salvou, é discutível. Chegou, sim, ao poder, um feito inacreditável para alguém que passou 580 dias na prisão após ser condenado em três instâncias por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Verdade que, para tal peripécia, contou com o auxílio luxuoso do STF, como disse, com sua proverbial empáfia, o próprio decano da corte, Gilmar Mendes. Mas se Lula está mesmo a salvo, que fantasmas o atormentam tanto para conceder asilo “humanitário” à peruana Nadine Heredia e, como se não bastasse, mandar um avião da FAB buscá-la no Peru assim que um tribunal local condenou a mulher do ex-presidente Ollanta Humala a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro? Estaria Nadine inclinada a colaborar com a justiça peruana se acabasse, como o marido, trancafiada no cárcere? O que poderia dizer de tão devastador sobre Lula?
“Entre corruptos se protegen”, mancheteou o diário El Trome, de Lima.
Hasta cuando?, pergunto eu.