Tenho um canal no YouTube. Chama-se Buenas Ideias e soma mais de um milhão e duzentos mil inscritos. Gravo episódios semanais, e já foram cerca de 300. Todos sobre história do Brasil. Ao todo, o canal já ultrapassou 60 milhões de views. Bem legal. Um sucesso. Meus parabéns. Vamos em frente.
Semana passada, decidi gravar um episódio sobre a Expedição Científica Roosevelt-Rondon. Há tempos estava querendo abordar a história dessa fantástica incursão ao coração misterioso do Brasil, quando o coronel Cândido Rondon ciceroneou o ex-presidente dos EUA Theodore Roosevelt pelo interior de Mato Grosso e pelos meandros da Amazônia. Foi em 1913 e o principal objetivo da missão era cartografar o curso “extravagante” de um rio até então jamais navegado (pelo menos não por homens brancos). Chamava-se, mui apropriadamente, Rio da Dúvida. E ficou decidido que, caso a expedição desvendasse os mistérios daquele curso d’água, ele passaria a se chamar Rio Roosevelt, como agora de fato se chama.
Foi uma jornada épica e havia inúmeros pontos a destacar no episódio. Mas me concentrei em um: detonar Roosevelt. Afinal, o lema que notabilizou Rondon, todo mundo sabe, foi: “Morrer se preciso for. Matar nunca”. Já Roosevelt, em discurso proferido em Washington, em janeiro de 1886, disse: “Não vou tão longe a ponto de pensar que os únicos índios bons são os índios mortos, mas acredito que nove em cada dez são”. Não bastasse, acrescentou: “E não pretendo investigar muito sobre o décimo”. Assim sendo, falar bem mal dele em meu canal foi algo que muito me deleitou.
Mas, quando o episódio não chegou nem a 100 mil views em uma semana (todos chegam no mínimo a isso), achei que eu havia sido delatado pelos conservadores norte-americanos e seus acólitos de verde-amarelo, embora eu sempre tenha me esforçado para manter essa gente longe de mim. Mas sabe que não foram eles que conspiraram contra o episódio e a favor de Roosevelt? Foi o próprio YouTube que decidiu restringir a circulação do vídeo e bloquear sua monetização. Pensei que o legado de Teddy Roosevelt estivesse vivo e que o YouTube, tal e qual o tal Facebook, fosse descaradamente republicano.
Mas foi algo pior, mais vil, mais rasteiro e mais nojento. Sabe o que levou o TuTubo a me censurar? O fato de o episódio mostrar imagens (originais, de 1913) de indígenas brasileiros desnudos – e ainda por cima dançando. Afinal, as regras da plataforma são claras: “Nudez (mesmo desfocada ou censurada), ainda que usada em contexto educativo ou jornalístico; foco em partes sexuais do corpo (mesmo cobertas); danças sensuais com pouca roupa; nudez ou representações de órgãos genitais” são rigorosamente proibidos.
Devo confessar que, para mim, mais do que Roosevelt, quem de fato ficou nu nesse episódio foi o próprio YouTube.