Sabe da última? O Twitter bloqueou a conta de Dom Pedro I. Bom, claro que não a conta oficial do Imperador, nem a do Império do Brasil. Essas seguem ativas, embora tediosas e previsíveis: ninguém as lê. Mas a conta do Inimigo dos Marotos acabar de ser cancelada. E a do Anglo-Maníaco também, bem como a do Duende, a do Derrete-Chumbo-a-Cacete e, claro, a do Piolho Viajante.
Daí você se pergunta: mas o que o bom Pedro tem a ver com esse gabinete do ódio? Ora, tudo, tudinho! Dom Pedro I era o Duende, o Derrete-Chumbo, o Inimigo dos Marotos e, logicamente, o Piolho Viajante. Tratavam-se dos fakes do Imperador – e não havia quem não o soubesse: na corte, na rua, na chuva, na fazenda e até numa casinha de sapê. Pois cada tweet tinha a digital do Imperador. Ou, pelo menos, uma das facetas de sua bipolar majestade. Pois, entre o médico e o monstro, Pedro também revelava o lado medonho. Senão, vejamos:
“Seu pedaço d´asno!”, “Atrapalhador da causa brasílica”, “Maldito bazófio”, “Maroto, corcunda, descamisado”, “Pé de chumbo”, “O senhor há de ferver com as pulgas!” Peraí, como é que é? “O senhor há de ferver com as pulgas”? Bem, lamentamos informar que isso viola as regras do Twitter e, pelo discurso de ódio, sua conta será cancelada, senhor Imperador! E, na sequência, Pedro ainda seria bloqueado no “face” e no “insta”. Ou seja, cancelaram o pobre Imperador. Deixaram-no nu.
Sei que parece piada, mas o fato é que os momentos que precederam e sucederam a Independência do Brasil viram surgir uma guerra de palavras na nascente imprensa nacional. Ofensas de fazer corar carluxos e carlixos. Cansado dos insultos impressos do qual era vítima, Dom Pedro resolveu revidar: criou vários fakes e foi à luta nas páginas dos jornais que, após séculos proibidos, enfim estavam liberados. E Dom Pedro circulava por todas as páginas, como se circulasse por todas as cabeças.
Não por acaso adotou o codinome Piolho Viajante. Era o título de um livro picaresco, escrito em 1802, por Policarpo de Silva e contava a história de um piolho que, indo de cabeça em cabeça, debochava de todas as classes sociais de Portugal. A obra fez estrondoso sucesso e dom Pedro a leu. Virou assim uma pulga atrás de orelha de seus inimigos. Mas quando o jornalista Libero Badaró foi assassinato por suas opiniões contrárias a Dom Pedro – e o Imperador foi acusado de ser o mandante – a crise precipitou sua abdicação, em 1831.
Conto essa e outras histórias no Dicionário da Independência e a editora Piu, que o publicou, disponibilizou o delicioso O Piolho Viajante em e-book, de graça. Se você ler essas obras, verá que ou o Brasil acaba com a saúva das fakes news e das ofensas online, ou a saúva acaba com o Brasil. Sugiro começar bloqueando as contas dos filhos do Imperador.