Pode haver coisa mais idiota do que odiar uma árvore? É quase tão estúpido quanto, digamos, proibir uma erva. Mas o fato é que, embora seja francamente favorável às ervas, e, mais que isso, apaixonado por árvores – até porque creio que já andei vegetando por aí numa encarnação anterior –, devo confessar que há uma árvore que odeio. Chama-se Pinus elliottii. Ela até poderia ser mais uma das adoráveis coníferas que vicejam por esse planeta, tivesse ficado nos pântanos da Flórida e colinas da Carolina do Sul, nos EUA, de onde é nativa – em vez de espalhar-se feito praga, como flagelo, qual peste, por todo o mundo.
Sim, o Pinus elliottii alastrou-se pelo planeta, levado pela mão do homem, porque cresce com doentia rapidez, como o câncer, é imparável e dá lucro imediato. Ele é péssimo onde quer que finque suas raízes, mas o lugar onde sua presença mais me ofende é num dos recantos terrenos que mais amo: os Campos de Cima da Serra. Ou, pior dizendo, ex-Campos de Cima da Serra, pois além da invasão dessa exótica agressiva, agora lá se planta batatas (com uma carga boçal de agrotóxicos). E aquele pampa mais perto do céu, com suas coxilhas recobertas de gramíneas e flores silvestres, agora agoniza.
Sim, já ouço vozes em defesa dos bons negócios, dos subempregos, do dinheiro e da sacrossanta ganância. Dirão que o pinus é indispensável, que preserva a mata nativa, que fornece celulose e madeira. E por isso pode ser plantado na borda de nossos majestosos cânions? Em áreas de preservação? À margem dos rios? Dentro do Passo da Ilha? Sem zoneamento, sem controle, sem limites?
Foi o próprio governo brasileiro que, em 1936, introduziu a cultura do pinus no Brasil. Pior: foi o Instituto Nacional do Pinho, uma das autarquias que Vargas criou após o golpe de 1930. Na década de 1970, meu pai, alto executivo de um banco, liberou, ele mesmo, vultosos financiamentos para os ditos "reflorestadores". Dizia-se: "Para cada árvore derrubada, dez serão plantadas". Quando lembro disso, meu sangue ferve. "Nem cobra nesse mato dá", me falou o caseiro da nossa casa em Canela. Eu tinha 12 anos e não esqueci.
Tenho certeza que, embora também fosse banqueiro, até Stephen Elliot (1771-1830), o botânico cujos estudos sobre a flora da Flórida uniram seu nome ao dessa maldita espécie, seria contrário à voracidade e ao desatino com os quais a árvore que ele batizou é plantada nos Campos de Cima da Serra – e alhures. Por falar em nome, acho que a história deveria guardar o dos tais reflorestadores – de antes e de agora. Para que seus netos saibam como eles deixaram o mundo mais verde. E mais morto.