Ah, o coco – que fruto mágico. Mágico e misterioso, pois, na real, não se conhecem suas origens. O fruto, bem como a palmeira onde ele brota, provavelmente são nativos do sudeste da Ásia. Mas o fato é que cocos fossilizados de 12 milhões de anos foram achados na Nova Zelândia e a planta já estava bem instalada na Índia e na África bem antes de os sapiens darem as caras por aqui. Acontece que o coco boia – e, por isso, ao cair no mar, pode viajar milhares de milhas até encontrar ilha e/ou um continente e ali germinar na santa paz.
Atualmente o coco está espalhado por todas as zonas tropicais e em várias porções subtropicais desse planeta cada vez mais quente. Mas no Brasil, ele não chegou por meio das correntes: foi trazido por mão humana. A sempre desconfiável Wikipédia cita 1553, mas Luís da Câmara Cascudo, autor da primorosa História da Alimentação no Brasil, lacra 1570 como o ano do desembarque do coco na Terra Brasilis. E cita o ponto de partida: as ilhas do Cabo Verde, de onde ele teria vindo, junto com os escravos que com seu suor e seu sangue ergueram a colônia.
No Brasil, como na Malásia, na Índia e algures, o coco é carne, é água, é leite, é azeite, é óleo, é amêndoa, é vinho, é mel. E ainda é casa, teto, esteio, mourão, ripa, roupa, lume, jangada, cumbuca e vasilha. Mas também é praga e as vastas plantações que von Martius avistou na Bahia em 1819 viraram monocultura quase tão severa e nociva quanto a cana.
Já o cocô, ah, o cocô com certeza não tem tantas utilidades quanto o coco. Ainda assim, há todo um ramo da paleontologia que estuda o cocô (coprólitos, ou cocôs fósseis, já ajudaram os cientistas a solucionar mistérios). Há fetiches eróticos envolvendo o cocô (a coprofilia) e também a coprofagia, mas isso é melhor deixar pra lá. E eu mesmo escrevi um livro, Passado a Limpo, sobre a história da higiene no Brasil, onde o cocô pontifica.
Talvez por isso, assim do nada, me deu vontade de dar conselhos. Afinal, autores de autoajuda estão em auta, ops, em alta. Assim, em verdade vos digo: tomar água de coco todos os dias é uma boa. Fazer cocô todos os dias também. Tem gente que recomenda que se faça "dia sim, dia não". Há quem diga que ele "estava brincando" ao falar isso. De todo modo, não recomendo a prática: e se o cocô subir à cabeça? Por isso, melhor ir aos pés todos os dias– e não trocar os pés pelas mãos.
A não ser, é claro, que seja para escalar um coqueiro e colher o coco.