Trabalho com história do Brasil, mas não sou historiador – a não ser que seja com I maiúsculo, ou, vá lá, com Y. Também gosto de dizer que sou ex-jornalista e ex-toriador. De todo modo, depois de ter lido cerca de 2 mil livros e escrito mais de 20 sobre o assunto, julgo estar qualificado para opinar sobre tão pungente tema. E deve ser por isso que, nas palestras que dou por aí, sempre tem alguém para perguntar: “O que falta para o Brasil dar certo?”. Tenho a resposta na ponta da língua, é claro. Mas, como ainda não chegaram ao meu preço, recuso-me a dá-la.
Mas essa não é a única indagação de que sou alvo. Outra questão frequente é: “Como você acha que os historiadores do futuro farão para escrever sobre o Brasil de hoje?”. Por considerar essa uma pergunta banal demais – sim, acho que o Brasil pode ser difícil de explicar, mas, em especial agora que arde nas chamas da ignorância, me parece ser um país bem fácil de entender –, resolvi complicar um pouco as coisas para mim. Assim, mudei a pergunta para: “Como os historiadores do futuro escreveriam sobre o Brasil se dispusessem como fontes apenas de um certo site de direita e de um site errado de esquerda?”.
Você já deve ter ouvido falar desses portais – se não, sorte a sua; mantenha-se longe (se sim, nunca é tarde para abandoná-los). Eles se anunciam, alternadamente, como “opinativos”, “democráticos”, “progressistas” e “investigativos”. Em mim, dão apenas engulhos. Há quem diga que foram feitos à imagem e semelhança de seus criadores. Sabendo-se quem são e lendo o que escrevem, não é difícil acreditar na tese.
Embora criados por jornalistas (na real, ex-jornalistas, que jamais serão ex-critores, como eu), esses sites odeiam, atacam, vilipendiam e desprezam a imprensa. Só que não sobreviveriam sem ela. “Como diz a Folha”, “segundo o Globo”, “conforme declarou à Rádio Gaúcha” são frases que abundam nas bostagens, ops, nas suas postagens. Porque, na absoluta maioria dos casos, eles não investigam nem apuram nada: quando muito, saem da “redação” com a matéria já pronta só para coletar delações premiadas de seus aliados, a quem chamam de “fontes”.
Mas sabe que no fundo acredito que esses portais estão prestando um serviço para os tais “historiadores do futuro”? Afinal, bastará eles verem o que seus leitores postam ali para entender que estamos vivendo o apogeu da canalhice, sob a égide da burrice ostentação.