As parcelas mais esclarecidas da população brasileira – e as mais obscuras também – mantêm um dedo acusatório em direção àqueles que julgam ser os culpados pelas mazelas do Brasil. Os alvos primordiais são, você sabe, os políticos (até porque de fato são os maiores responsáveis) e os corruptos (quase sempre eles mesmos). Mas sobra para os jornalistas (tadinhos), os militares (isso até pouco tempo, pois agora parecem ter virado heróis), os milicianos, os ricos, os pobres, o MST, os latifundiários, a polícia, os bandidos, os evangélicos, os ateus. Mas nunca vi ninguém acusar arquitetos e engenheiros. Chegou a hora.
É preciso reconhecer: o Brasil urbano é feio demais. Mais que feio: é horroroso, deprimente, desanimador. Quem nasceu na, ou antes da, década de 1950 e conheceu o centro das grandes capitais – São Paulo, Rio, Salvador, Porto Alegre, BH – viu o quanto foram degradados: prédios lindos postos abaixo e aberrações erguidas em seus lugares. Pasmos ou indignados, às vezes nem sequer entendemos o que houve, embora reste evidente que o processo se iniciou na era JK, explodiu com a concentração de renda e o autoritarismo do regime militar e caiu na vala comum, no marasmo e no exercício ralo da cidadania que se seguiu à redemocratização, quando, de tão preocupado com o futuro, o Brasil esqueceu do presente sem deixar de cuspir no passado.
É óbvio que a ausência de planejamento urbano e de zoneamento, os gabaritos manipulados, o poder nefasto das empreiteiras e construtoras influindo na elaboração dos planos diretores, aprovados por certos energúmenos que ocupam as Câmaras de Vereadores, são a parte mais ativa do processo que enfeou o Brasil urbano (e vem destruindo também suas lindas praias). Mas, apesar dessa culpa coletiva, resta a "culpa" individual.
Por isso, pergunto: de onde surgiram tantos engenheiros achando que podem prescindir de arquitetos e tantos arquitetos ruins, tantas ideias de mau gosto, tantos projetos com formas, materiais e conceitos horrendos?
Assim como certas construtoras botam suas logomarcas no topo dos prédios que erguem (ótima ideia, aliás, e espero que fiquem lá, para a posteridade saber quem fez aquilo), sugiro que haja uma placa com os nomes dos responsáveis pelo projeto. E, é claro, o nome da faculdade na qual se formaram. Ok, jornalistas podem ter sua parcela de culpa pelo medonho mundo que nos cerca, mas pelo menos dá para enrolar peixe com as colunas que eles escrevem. Garanto que não é possível fazer o mesmo com esses horrores concretos que brotaram na minha frente, justo quando eu estava distraído escrevendo mais uma. Ah, sim: o francês Alain de Botton reflete sobre o impacto da arquitetura em nossas vidas e saúde mental no livro Arquitetura da Felicidade. Melhor você não ler.
Em tempo: a escola da Fazenda Canuanã, em Tocantins, projetada por Marcelo Rosenbaum, foi eleita o Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo. Ufa.