Eduardo Bueno Direto de Moscou
Sob a penumbra umbrosa e o ar mortiço, o templo que deveria ser sagrado na verdade exala um clima profano. Foi erguido para celebrar a vida, mas mais parece uma exaltação à morte insepulta, dia após dia, há quase um século. Um facho de luz baça se projeta do teto, transpassa o sarcófago de vidro e então alumbra a face severa e pétrea do falecido. É um rosto macilento de cera – ou uma máscara mortuária de carne –, mais inquisidor do que tenebroso. Quase esfinge em vez de múmia, a propor, em silêncio mortal, o enigma às avessas: “Devora-me ou te decifro”.
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