De acordo com a súmula da derrota por 2 a 1 do Inter para o Goiás, os gritos de "gaúcho veado" não existiram no Serra Dourada nesse domingo (26). Embora os cantos homofóbicos tenham sido ouvidos em alto e bom som, registrado na transmissão da Rádio Gaúcha em mais de uma oportunidade ao longo da partida, o documento feito pelo árbitro baiano Marielson Alves Silva ignora os episódios. Isso já havia ocorrido dentro de campo. Em nenhum momento, o juiz teve a atitude de parar a partida para tentar coibir a ação dos torcedores.
Na partida entre Vasco e São Paulo, a coisa foi diferente. O árbitro Anderson Daronco procedeu de forma exemplar com relação às manifestações da torcida vascaína durante a partida da 16ª rodada do Brasileirão. O juiz gaúcho fez o alerta ao delegado do jogo, aos capitães e aos técnicos de que os gritos de "time de veado" não poderiam se repetir. Ele também solicitou que a informação fosse divulgada no sistema de som do Estádio São Januário.
A atitude de Anderson Daronco decorre de determinação do STJD. Na semana passada, procurador-geral Felipe Bevilacqua enviou um ofício aos clubes explicando que esse tipo de caso será enquadrado no artigo 243-G do Código Disciplinar, que fala em "praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".
A punição prevista pode render até mesmo a perda dos pontos da partida. A procuradoria do STJD tem até 60 dias para denunciar o Vasco. Há duas questões que se anunciam como fundamentais a partir de agora.
Qual será a linha de conduta do tribunal para episódios como esse, que foram relatados e conduzidos da forma adequada pela arbitragem, é a primeira delas. Saber como será a análise dos casos registrados no campo, mas que não são colocados em súmula, é a segunda.
O momento é histórico e um padrão disciplinar precisa ser construído. Enquanto isso, fica o alerta para que os torcedores não tenham comportamentos preconceituosos e repreendam os que ainda não entenderam o recado. O que era "aceito" no passado precisa ser lembrado como algo para não ser repetido. Não há argumento contrário. O mundo mudou e agora é daqui para o futuro.