Péricles Bassols Cortez entrará em campo pela primeira vez para apitar um Gre-Nal neste domingo (9), pela 24ª rodada do Brasileirão. Mesmo com a longa experiência na arbitragem, o juiz de 43 anos não esconde a expectativa para o clássico e reconhece que o jogo ficará marcado como um dos principais da carreira.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, ele falou sobre a preparação e o nível de concentração que uma partida como essa exige da equipe de arbitragem. Lamentou o fato de ter perdido o escudo da Fifa no começo de 2017 quando estava alcançando o auge técnico, físico e de maturidade no apito.
Ao mesmo tempo, o carioca, que atua pela Federação Pernambucana de Futebol há três temporadas, enalteceu que a escala para o Gre-Nal 417 é o reconhecimento de que o trabalho está sendo bem feito mesmo fora do quadro internacional.
Dentista por profissão, pai de uma menina e com a esposa nos primeiros meses de gravidez do segundo filho, Péricles Bassols Cortez não disfarçou o sorriso ao falar da família, que merecerá um agradecimento especial quando ele estiver deixando o gramado do Estádio Beira-Rio. Confira a entrevista abaixo:
Qual a expectativa para o Gre-Nal?
A expectativa é enorme. Para quem trabalha com isso e está há tanto tempo nos gramados, um clássico desta magnitude é muito importante na carreira de um árbitro. A gente sonha com essas partidas e concretizar isso é um passo importante.
Costumo dizer que o Gre-Nal é um jogo traiçoeiro. Muitas vezes o árbitro acha que a partida está tranquila e em uma fração de segundo ela se transforma. Você buscou contato com alguém que já apitou o clássico para estar atento a esses detalhes?
Não busquei, mas os árbitros mais antigos, os que já estão aposentados, acabam fazendo contato para parabenizar. Alguns que estão na ativa também. Mas em virtude de alguns anos já nos gramados, passando por alguns clássicos, a gente sabe como funciona e qual é o emocional que envolve um jogo desses. O estado anímico dos jogadores, normalmente o que um jogo desse traz e carrega para eles, para a torcida, para os dirigentes... A gente se prepara para isso ao longo da carreira. Acaba sendo natural, mas é óbvio que a gente acaba ficando com expectativa também porque é um grande jogo, um dos grandes clássicos do futebol brasileiro, talvez o maior.
Como vai funcionar a preparação da equipe de arbitragem para o Gre-Nal?
Nós somos uma espécie de terceira equipe em campo. E a gente faz um pouco do que eles (jogadores) fazem também. Tem plano tático, tem análise de jogadores, análise da parte técnica também. Quem prende mais, quem solta mais, quem lança uma bola mais longa. Isso tudo faz com que a gente antecipe alguns movimentos. E antecipar movimentos em um clássico dessa envergadura pode ser primordial e evitar alguns transtornos. A gente tem sim planejamento, tem preparação específica para todos os jogos e estende isso para um jogo como este com certa naturalidade. Não pode fugir muito também porque nos outros jogos a gente dedica esse mesmo nível de concentração e não pode deixar baixar.
O momento do Inter e do Grêmio na tabela de classificação do Brasileirão interfere de algum modo na maneira como o árbitro se comporta em campo?
Não deve interferir, não. Isso tem que ser algo natural para equipe de arbitragem. A gente tem que respeitar o jogo independente da pontuação porque algumas vezes, até quando você está fazendo um jogo de equipes que estão mais embaixo na tabela, o nível de stress é maior. A gente não pode se importar com isso para o jogo transcorrer normalmente. Senão isso faz você ter algumas pré-avaliações a respeito do jogo e imaginar que será de um jeito, e ele te surpreende sendo de outro.
Você fez parte do quadro da Fifa e já apitou jogos importantes na carreira. Em que patamar colocaria o Gre-Nal?
Dá para colocar no patamar dos grandes clássicos. É um jogo que todo árbitro sonha em fazer. Todo árbitro mentaliza jogos como este, com essa envergadura. Fazer um Gre-Nal neste momento do campeonato, com as duas equipes da maneira que estão, tem essa importância. Está entre os grandes jogos do mundo na minha opinião. Não deve nada aos grandes clássicos do mundo inteiro.
O Gre-Nal não deve nada aos grandes clássicos do mundo inteiro
Você deixou o quadro da Fifa no começo de 2017, talvez no melhor momento da carreira. O que representa ter ou não o escudo internacional no peito diante deste jogo?
Concordo que saí no melhor momento da minha carreira, sem dúvida nenhuma. Era o momento de maior maturidade emocional e física, inclusive. A gente atinge uma maturidade física, que é ter o potencial e as valências para o desempenho, mas é também saber colocar isso em prática durante o jogo. Quando você é mais novo, corre desenfreadamente, com muita energia, e às vezes errada. Em todos os sentidos eu me entendia no melhor momento da minha vida na arbitragem. Não estar com esse escudo em jogo como este representa que nada mudou. O nível e o status que alcancei me trazem para uma partida como essa, independente de escudo no peito. Não importa muito o que você carrega, mas o que está fazendo em campo.
Aos 43 anos, qual o grande objetivo que você tem na arbitragem?
É uma boa pergunta. Meu plano agora é fazer um jogo depois do outro. Conquistando um degrauzinho depois do outro. Depois que você sai do quadro internacional, o teu objetivo muda um pouco. Meu objetivo é me manter em alto nível. Série A. Grandes jogos como este, corroborando para o momento. É um jogo depois do outro para ver até onde eu consigo. Aos 43, pelo nível de treinamento que você tem que fazer para se manter em alto nível, é um pouco cansativo. O corpo começa a cansar depois dos 40. O nível de preparação e recuperação depois dos jogos tem que continuar alto. Tem que se intensificar, na verdade, para se manter competitivo em relação aos árbitros mais novos e entregando a mesma coisa que eles entregam. O corpo acaba cansando, o mental cansa, a família cansa das viagens e da ausência, e a gente vai pensando em um jogo após o outro agora. Mas da seguinte maneira: se eu continuar em alto nível e se me deixarem ir indo, pode ser que eu vá mais longe do que os 45 anos, sim.
Qual seria a palavra ou sentimento que você gostaria de dizer ou apenas de pensar no exato momento em que apitar o final do Gre-Nal 417?
Obrigado! Nada diferente disso. Um agradecimento. Na verdade, esse agradecimento tem um obrigado intrínseco porque dentro dele tem a minha família, tem as pessoas que estão envolvidas na minha vida desde sempre. Tem a comissão, que acaba dando um voto de confiança quando te designa para um jogo como este. Pai e mãe, todo junto que passou pelo trajeto. Minha família, minha esposa e minha filha. Minha esposa agora está grávida de um segundo neném, que a gente ainda não sabe se é menino ou menina. São as pessoas que sentem minha ausência e que ficam longe cada vez que eu saio. Obrigado a eles por aturarem tudo isso e esperarem que a gente volte sempre.