Nenhum jogador apareceu mais. Nenhum gol foi mais comentado. Nenhum corte de cabelo foi mais polêmico. O árbitro assistente de vídeo foi o grande personagem da fase de grupos da Copa da Rússia. A novidade cumpriu a promessa de ser a maior revolução na história das regras do futebol e impactou profundamente no andamento dos primeiros 48 jogos da competição.
O recurso eletrônico interferiu 17 vezes nas decisões do juiz principal. A maior participação esteve nos pênaltis. Dos 24 marcados, sete só aconteceram por causa dele. Houve situações de penalidades que foram revisadas e acabaram modificadas ou mantidas a partir da análise do monitor à beira do gramado. Tivemos as que não foram marcadas no campo e nem depois da análise da imagem. Também não faltaram as que deveriam ter sido revisadas e não foram, bem como as que foram e não deveriam.
O grande problema do árbitro de vídeo até aqui esteve nos critérios confusos na hora de interferir ou não na decisão do juiz principal. O protocolo da Fifa diz que somente lances claros e inequívocos devem ser avaliados. Com isso, o princípio básico é buscar o maior benefício com a menor interferência. Se o árbitro de vídeo começar a se meter quando não deve, estará atrapalhando a arbitragem e o jogo.
A partida entre Irã e Portugal foi um bom exemplo de como as coisas não devem ser conduzidas. Ali, o árbitro de vídeo parecia querer tomar para si o apito. Dois pênaltis em lances interpretativos foram marcados com a interferência equivocada do recurso eletrônico. Além disso, o árbitro paraguaio Enrique Cáceres foi chamado para avaliar a possibilidade de aplicação de cartão vermelho direto para Cristiano Ronaldo. A revisão desse lance foi um erro absurdo do árbitro de vídeo Massimiliano Irrati, da Itália. Tudo o que não ocorreu foi um erro claro do juiz principal para justificar o uso do recurso eletrônico. Não é esse tipo de interferência que o protocolo pede.
Questões como essas evidenciaram a maior fragilidade do árbitro de vídeo. Nem mesmo a arbitragem parecia ter entendido quando o recurso deveria ser realmente utilizado. Com isso, não seria exagero resumir que a tal novidade tecnológica estava gerando mais polêmicas do que soluções.
Em meio a todas as dúvidas, veio o lance emblemático. O árbitro de vídeo mostrou a que veio com o acerto gigantesco no gol que eliminou a Alemanha. O lance era muito difícil para uma marcação precisa do bandeira, que acabou dando impedimento equivocado do jogador da Coreia do Sul. Somente com o recurso é possível perceber que a origem da jogada foi um toque de Kroos para trás. De acordo com a regra do impedimento, não há como caracterizar posição irregular quando a bola vem do adversário. Isso torna o gol absolutamente legal.
Na relação entre polêmicas e acertos, os últimos dois dias da fase de grupos da Copa do Mundo foram marcados pela interferência decisiva do árbitro de vídeo. Além da correção no gol da Coreia do Sul, podemos destacar a correção de um pênalti mal marcado na vitória por 1 a 0 da Colômbia contra Senegal.
Podemos dizer que o árbitro de vídeo está trabalhando há dois dias sem "acidentes". Às vésperas das oitavas de final, isso pode representar a esperança de que o recurso continue sendo adotado de forma correta. Ele será fundamental para evitar erros claros de arbitragem. Se for mal utilizado, porém, os problemas podem ser ainda maiores do que com ausência do recurso. Essa é a grande lição que a fase de grupos da Copa da Rússia deixa para quem apoia a evolução tecnológica no futebol.