A função mais nobre do jornalismo e, ao mesmo tempo, a mais complexa e desafiadora é a do repórter. Nove em cada 10 recém-formados começam na profissão nessa atividade. É como se fosse um rito de passagem para quem quer seguir na carreira. Não é uma regra – e há exceções que desmentem o que acabei de dizer –, mas o recomendável é não queimar essa etapa. Parte, depois de um tempo, vira editor, gestor, colunista, apresentador. Mas uma grande parcela opta por continuar na reportagem, de tão apaixonante que é.
A Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho tem um dos melhores times de repórteres do país, não apenas pela excelência mas também pela abnegação. Um dos mais experientes e versáteis dessa equipe é Humberto Trezzi. É o que chamamos no jornalismo de repórter puro-sangue. São quase quatro décadas fazendo reportagens que já lhe garantiram 74 prêmios, internacionais, nacionais e estaduais.
Há 32 anos em Zero Hora, Trezzi coloca entusiasmo e dedicação em tudo o que faz. Como integrante do Grupo de Investigação da RBS (GDI), fez reportagens como as que revelaram o poder das facções criminosas instaladas no Rio Grande do Sul, a indústria da falsificação de cigarros e a venda de casas ilegais em áreas ambientais. Fez coberturas internacionais nas guerras civis de Angola (1996) e da Líbia, durante a Primavera Árabe (2011), e dos cartéis no México (2009), entre outras. Além de repórter, é também colunista de segurança, área na qual sempre teve forte atuação como repórter.
Trezzi costuma dizer que uma das maiores gratificações para um repórter é ver que uma investigação jornalística teve consequências, que ajudou a contribuir para uma sociedade melhor. Em junho, no auge da pandemia, ele e o colega da RBS TV Giovani Grizotti mostraram casos de pessoas com poder aquisitivo que estavam requisitando o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal, dinheiro destinado a parcela da população carente. Até uma noiva, que se casaria no Caribe, e uma empresária, dona de um Mustang, estavam na lista.
Depois da reportagem, alguns dos beneficiados devolveram o dinheiro. O material publicado em ZH e GZH e veiculado na RBS TV serviu de base para investigações criminais e cíveis da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Na quinta-feira, a PF desencadeou um mutirão para interrogar suspeitos de fraudar o auxílio emergencial. Dos 172 suspeitos, 36 foram revelados pelo GDI.
– Comprovamos mau uso do dinheiro público e, o que é ainda melhor, nossa reportagem induziu pessoas a devolverem os recursos recebidos de forma indevida e ajudou nas investigações dos órgãos competentes – conta Trezzi, que já trabalha em outras frentes de investigação, sempre com a disposição de quem está começando na profissão de repórter.