Quando os italianos vieram a Porto Alegre e pagaram a multa rescisória de Alexandre Pato (US$ 20 milhões, à época R$ 37 milhões na cotação atual), lembro bem da sensação de susto. O roteiro era claro. Quem pode e tem, no futebol, leva.
O Inter até tentou mantê-lo por alguns meses. Como não tinha 17 anos ainda, quem sabe ficar em Porto Alegre até os 18?
O Milan riu e o levou para só ficar treinando e conhecendo o CT de Milanello. Foi sem carteira de motorista mesmo.
O que mudou de lá para cá, na relação Europa-Brasil? A rigor, nada. A lógica do pobre e do rico é rigorosamente a mesma. Mudaram só fatores do processo, mas não o processo em si.
Além de caçarem presas imberbes, os tubarões pagam mais. Os valores de Pato são piada se comparados aos de hoje.
Sabe-se lá quanto o Chelsea está disposto a pagar ao Grêmio por Gabriel Mec, atacante rápido e driblador de 16 anos. Só tenho uma certeza: despudoradamente mais do que há quase duas décadas. Do contrário, os ingleses e o pai de Neymar não estariam no CT de Eldorado examinando o alvo, para depois formalizar proposta pelo rápido e driblador adolescente gremista.
O mesmo Chelsea fechou um negócio por Estevão, que pode render ao Palmeiras 60 milhões de euros (R$ 350 milhões na conversão da moeda) entre valor fixo e bônus por metas.
A multa de Mec é milionária. Como ainda não recebeu chance no profissional — Estevão e Endrick estrearam aos 16, perto dos 17 —, digamos que o Chelsea ofereça 40 milhões de euros.
Em reais, seriam R$ 237 milhões. Para se ter ideia, a dívida da OAS com bancos pela construção da Arena é de R$ 226,3 milhões. Por menos do que isso, investidores compraram parte dela este ano.
Já pensou se, com a grana de Mec, o Grêmio fizesse algo do gênero, tornando-se dono da Arena?
O clube tem uma dívida total bem elevada. Em resumo: como não vender? Pobre futebol sul-americano, com diria diria Marcelo Bielsa. Menos mal que os europeus entenderam que não adianta sair tão cedo.
Ao menos Gabriel Mec ficaria no Grêmio até completar 18 anos. O período, além de dar tempo de virar ídolo da torcida, funcionaria como pré-adaptação (dele e a família), inclusive com aulas de inglês. Algo que Alexandre Pato, lá atrás, não teve.