
Se acontecer, será um marco histórico. Torço, mas não creio. A classe dos jogadores é alienada para questões dessa ordem. Sobram ações humanitárias, e elas são fundamentais. Ajudam muito a fazer a diferença. Mas quando é preciso algum tipo de confronto com o status quo — CBF, presidente dos clubes que pagam seus salários —, o silêncio prevalece.
O fato é que Nenê, do Juventude, tenta liderar um movimento com os capitães da Série A. O objetivo, claro, é parar o futebol até que haja um mínimo de condições materiais e emocionais para Grêmio, Inter e Juventude voltarem a treinar e jogar. E, antes disso, para que todos os gaúchos possam focar e trabalhar no que realmente importa nesse momento: salvar vidas e retomar a normalidade possível no colapso das cheias.
O campeonato é brasileiro. A Copa é do Brasil. O Rio Grande do Sul faz parte do Brasil. Se clubes brasileiros não conseguirem ser solidários numa hora dessas, dividindo prejuízos e olhando além do umbigo, estaremos diante da barbárie institucionalizada. Eu faço o meu, desportivamente. Você faz o seu. Mortes, destruição, impossibilidade de trabalhar? Cada um com os seus problemas.
Os argentinos já fizeram isso — união dos capitães — algumas vezes, diante de temas como atraso de salários e ondas de violência nos estádios. Reuniam-se em um hotel, ameaçando suspender rodadas ou parar o campeonato. Forçavam alguma medida. Tentavam. Expunham-se. No Brasil, nunca aconteceu.
Se Nenê conseguir, merece prêmio. Desde a Democracia Corintiana, com Sócrates, Casagrande e Vladimir, nunca houve algo parecido. União contra catástrofe natural e combate à ditadura militar são motivações bem diferentes, eu sei, mas há um ponto de contato: enfrentar o poder da CBF e das obrigações financeiras do business.