
O presidente do Inter, Alessandro Barcellos, considera o adiamento de jogos dos clubes gaúchos até o dia 27 de maio feito pela CBF uma medida emergencial, mas insuficiente para o tamanho da tragédia ocasionada pela enchente no Rio Grande do Sul. O dirigente também descartou qualquer possibilidade de o clube treinar ou mandar jogos em outro estado.
— Nós não vamos abandonar nosso povo nesse momento. Não vamos sair e deixar as pessoas aqui sofrendo. Isso é fundamental nesse momento. Fica o pedido de compreensão por uma solução que pense nas milhões de pessoas atingidas por essa tragédia — declarou Barcellos em entrevista ao canal SporTV na tarde desta quarta-feira (8).
A resposta de Barcellos diz respeito ao oferecimento por parte de Palmeiras, São Paulo e Flamengo de seus CT e estádios para os clubes gaúchos treinarem e mandarem jogos do Brasileirão.
Favorável à paralisação do Brasileirão, Barcellos questionou a demora da CBF para adiar o jogo contra o Juventude, pela Copa do Brasil, que estava marcado para sexta (10), e disse que os clubes gaúchos não podem neste momento planejar o retorno às competições.
— Falei para o presidente Ednaldo (Rodrigues) de a gente ter uma condição de sequer está preocupado com isso porque não temos condição. Tínhamos um jogo marcado para sexta-feira que só foi desmarcado ontem (terça). Já era para ter sido desmarcado há muito tempo. Uma medida emergencial que julgo insuficiente para o tamanho da tragédia que estamos vivendo. Sei que é difícil para quem não está aqui ter essa dimensão, mas não foi uma região específica, o Estado inteiro foi atingido. Em Porto Alegre, 85% das pessoas estão sem água, quase todas as regiões da cidade foram atingidas — disse, para depois completar:
— É um exercício mínimo de empatia que a gente espera que seja feito. É o sentimento de quem está dentro da água ajudando as pessoas, e não estou falando de mim, mas de uma população que tem trabalhado 24 horas de forma solidária. Dos familiares e parentes, quem trabalha no futebol, dos funcionários mais humildes aos mais altos. A gente precisa cuidar as palavras para não usar exemplos que possam machucar um ao outro. Estamos muito abalados e não vamos colocar o futebol na frente da vida.
Veja outros trechos da entrevista:
Como o senhor está?
Moro num lugar um pouco mais alto. Temos dificuldade de água e luz, mas muito pouco perto do sofrimento e da tragédia que assolou milhões de pessoas no Estado e milhares aqui em Porto Alegre. Quero pedir desculpas, neguei algumas entrevistas por que estamos priorizando o que é o mais importante, que é o apoio, a solidariedade e o trabalho com as vítimas. Mas a gente sabe a responsabilidade que tem enquanto mandatário de um clube que tem milhões de pessoas apaixonadas e afetadas por esse momento. É importante a gente passar para vocês, na medida do possível, a dimensão do que estamos passando e e vive o Rio Grande do Sul. É assim que a gente tem se colocado e conversado com os presidentes aqui da Série A, mas também das outras séries. Falo do presidente Alberto Guerra (Grêmio) e o presidente Fábio, do Juventude, e a nossa posição tem sido conjunta. Estamos trabalhando juntos para passar esse momento difícil de salvar vidas e depois o momento de recuperação de casas, toda uma infra-estrutura e condição de vida dos gaúchos.
É possível mensurar danos?
Não é possível ainda, está tudo embaixo da água. Temos aí 417 municípios afetados, mais de 1 milhão de pessoas afetadas. Temos funcionários que perderam suas casas e, outros que ficaram ilhados e tiveram de ser resgatados. Toda uma consequência social que não é possível mensurar. O mais importante é o patrimônio da vida, tirar as pessoas dessa situação. As consequências serão levantadas depois do ponto de vista material. O complexo Beira-Rio, como um todo, nosso CT é atrás do estádio. Estruturas foram todas tomadas por água. Uma situação que ainda não nos permitiu fazer este levantamento.
Adiamento dos jogos
Foi uma medida emergencial. Falei para o presidente Ednaldo (Rodrigues) de a gente ter uma condição de sequer está preocupado com isso porque não temos condição. Tínhamos um jogo marcado para sexta-feira que só foi desmarcado ontem (terça). Já era para ter sido desmarcado há muito tempo. Uma medida emergencial que julgo insuficiente para o tamanho da tragédia que estamos vivendo. Sei que é difícil para quem não está aqui ter essa dimensão, mas não foi uma região específica, o Estado inteiro foi atingido. Em Porto Alegre, 85% das pessoas estão sem água, quase todas as regiões da cidade foram atingidas. Quero agradecer os gestos de solidariedade da sociedade, clubes, manifestações de presidentes. Mas quando tratamos de partidas do campeonato, a dimensão que isso tem, os clubes gaúchos representam 15% em termos de número de clubes. Representam parte importante do país. É uma questão unitária, não se trata de dar alternativas. Faço o questionamento: supondo que fôssemos insensíveis à situação que estamos vivendo e estivéssemos preocupados com o futebol, os clubes concordariam em jogar em algum campo disponível, viajar até Florianópolis e pegar mais 13 horas de ônibus, já que as entradas das cidades não existem, existe uma só, e depois chegarem aqui e tomarem a água que os outros não têm para tomar, não tomarem banho, jogarem e entrarem num ônibus de volta com mais 13 horas e avião. Todos iriam concordar? Dariam W.O. para essas partidas? É uma pergunta que tem de se fazer quando se começa a se falar "vamos jogar aqui e treinar". É um exercício mínimo de empatia que a gente espera que seja feito. É o sentimento de quem está dentro da água ajudando as pessoas, e não estou falando de mim, mas de uma população que tem trabalhado 24 horas de forma solidária. Dos familiares e parentes, quem trabalha no futebol, dos funcionários mais humildes aos mais altos. A gente precisa cuidar as palavras para não usar exemplos que possam machucar um ao outro. Estamos muito abalados e não vamos colocar o futebol na frente da vida.