A ideia do roxo unindo Grêmio e Inter na luta pela reconstrução pós-enchentes pode ser o primeiro passo para algo ainda maior do que ambos trabalharem juntos pelos outros. Isso já aconteceu outras vezes, embora o emblema da camiseta única seja um marco. Refiro-me ao Grêmio jogar no Beira-Rio e/ou o Inter treinar nas dependências gremistas. Em algum momento essa realidade será colocada, diante das situações dos estádios e dos CTs.
O Beira-Rio ficará disponível muito antes da Arena. O CT Luiz Carvalho, do Grêmio, tem tudo para receber treinos muito antes do Parque Gigante, do Inter. Depois de ambos unidos em nome do roxo, racionalmente ficaria esquisito não dar esse outro passo.
A luta para vencer a catástrofe tem de ser total, sem picuinhas. Pelo que recebo de retorno aqui e ali, tenho dúvidas se os torcedores gremistas aceitariam de bom grado jogar no Beira-Rio. Idem para os colorados, no caso do CT do Grêmio. Sim, é muito difícil. Mas e se o roxo abrir caminho para algo que há meio século não seria problema mas, hoje, na era da intolerância como regra, virou muralha intransponível?
O ponto central do empréstimo de estádio ou CT é o paradigma a ser rompido. Há uma questão ética envolvida. Ceder ou não ceder instalações implicaria ajudar ou prejudicar o principal adversário. Eis o nervo exposto.
O grande teste
Do ponto de vista desportivo, essa lógica de antes garantir o mal do vizinho se explica. É a história da secação máxima: há colorados e gremistas que, até no Gre-Nal, antes secam o vizinho. A rivalidade Gre-Nal cresceu desse jeito ao ponto de construir dois campeões do mundo.
Só que, desta vez, há um desastre ambiental sem precedentes na história do país. Uma catástrofe que matou, desalojou, desabrigou e faliu milhares de gaúchos.
A mensagem que Grêmio e Inter passariam, se esse paradigma for quebrado, alcançaria um nível quase sobrenatural. Alessandro Barcellos e Alberto Guerra teriam de ser corajosos. "Tudo é possível" e "nada pode ser descartado" disseram, respectivamente, Guerra e Barcellos. Torço para que o roxo seja um caminho sem volta ao menos nessa excepcionalidade que vivemos. O grande teste está perto.