Claro que falta o modelo todo ser testado com esses jogadores, contra adversários mais encorpados, mas comparemos com o Inter do ano passado, também no Gauchão. Mesmo universo. Mesmos grandes. Mesma pré-temporada. Mesma falta de ritmo. Todo jogo era um sofrimento. Muitos empates. Times do Interior batiam de frente com o Inter no Beira-Rio na primeira fase.
Portanto, dentro do processo possível de um começo de temporada, este primeiro estágio está sendo muito bem executado coletivamente pelo Inter em 2024 até agora. E, dentro das já conhecidas digitais que o técnico Eduardo Coudet tenta imprimir em suas equipes, uma que apareceu pouco está sendo tratada com especial importância, inclusive em relação ao ano passado, já com Coudet.
Trata-se dos desarmes.
O “perde-pressiona”, que é a ação coletiva de recuperar a bola no local onde é perdida, virou mantra. Percebe-se que é executada mesmo em jogos resolvidos, aqueles que nem precisa se esforçar muito mais. Foi assim no 3 a 1 sobre o Brasil-Pel, no Beira-Rio, jogo que abriu dois pontos para o Inter na liderança.
Foram 14 desarmes contra quatro do Xavante. Mais do que o triplo. É um número alto. Com os titulares, sofreu apenas oito finalizações no alvo: três do Brasil, nenhuma do Santa Cruz, uma do Caxias, duas do Ypiranga e duas do Avenida. Levou só o gol de honra do Xavante.
Isso explica parte dos 73% do tempo com a bola, obviamente sem ser atacado. O Inter sempre a recuperou imediatamente quando a perdeu, seja lá na frente, no meio ou atrás.
Parece simples, mas não é. Se fosse todo mundo fazia.
São movimentos coletivos. Quem está próximo faz o abafa, enquanto os outros, mesmo mais distantes, agem para tirar possíveis opções de passe, induzindo o adversário ao erro. As linhas precisam estar próximas, para facilitar a ação coletiva. Há risco, pois a ideia é atacar com muita gente e usar esse pessoal todo para sufocar o adversário na hora de defender. Se alguém falhar, tome contra-ataque.
Não adianta só um ou dois agirem. Às vezes a recuperação final da bola se dá mais atrás, mas isso ocorre pelo movimentos em cadeia iniciados lá na frente, que vão impedindo o adversário de respirar e controlar a posse com naturalidade.
Nos jogos que vi do Inter, claramente esses movimentos se repetem mesmo com a partida resolvida, para que sejam mecanizados e se tornem instintivos. O fato é que, nos desarmes, o ofensivo Inter deste Gauchão está dando de goleada.