Torço, como amante do futebol, que Luiz Suárez siga no Grêmio até o fim do contrato, em 2024. É aula de centroavância, sobre como dar o passe de primeira, puxa contra-ataque, triangular, finalizar de qualquer jeito no alvo, entortar a coluna do zagueiro só com o corpo, antes mesmo de tocar na bola.
Suárez não é só o melhor atacante do Grêmio, mas o melhor meia também, à frente de Cristaldo ou Bitello. Só que a instituição está acima de qualquer jogador, mesmo um extraterrestre como o Pistoleiro. Do jeito que está a situação, não dá mais.
Ou bem ele viaja a Barcelona, trata do joelho com o médico da sua confiança e volta zerado para cumprir o vínculo com o Grêmio, aliás muito bem amarrado pelo presidente Alberto Guerra, com uma multa protetiva impagável, ou Suárez fica e joga conforme o seu empregador decidir. O que aconteceu em Salvador não pode se repetir.
O Grêmio queria poupá-lo no fim de semana, para tê-lo inteiro na Copa do Brasil. Era o plano, conforme revelou Vina. Só que Suárez insistiu para jogar no sábado. As dores eram suportáveis. Renato o atendeu e mudou o planejamento da Operação Salvador em cima da hora.
Aí, no jogo que mais interessava, vem a desistência minutos de a bola rolar na Fonte Nova. As dores aumentaram, segundo Suárez. Mas não era justamente esse o receio do Grêmio, do qual ele discordou?
Em algum momento, o Grêmio terá de dizer não a Suárez. Compreendo a administração do problema e o feeling incrível de Renato, mas tudo tem limite. É péssimo para o técnico ficar nessa incerteza, sabendo que no balanço das horas tudo pode mudar ao sabor de uma única percepção, no caso a de sua estrela.
Em algum momento, o Grêmio terá de comunicar Suárez de que ele será poupado aqui para chegar mais forte ali. É isso ou delegar ao uruguaio uma condição para a qual não está habilitado, embora conheça o próprio corpo como ninguém. Ele é craque, mas não é médico, fisioterapeuta ou preparador físico.
Assim como está, fica a sensação de que ele se escala e desescala quando bem entender, avaliando por conta própria a evolução das dores e da artrose. Em Salvador, seu diagnóstico deu errado. Achou que suportaria sábado e terça-feira.
Errou, e o preço só não foi mais salgado porque Cuiabano salvou a derrota ao apagar das luzes na terça. Valorize-se a valentia de Suárez: ele quer jogar todas. Aceite-se o pedido para se tratar com o médico da sua confiança, comum em atletas da sua prateleira.
Por mais que o talento de Suárez nos encante a cada show, essa novela tem de terminar. O Grêmio não pode mais ficar tão dependente de como Suárez percebe as dores que o atormentam.
E nem deixar colar esse carimbo de que está sendo insensível quanto à saúde de um dos maiores centroavantes da história, acelerando o fim de uma carreira ímpar, sem que o uruguaio tenha tempo de se beneficiar desses dois novos cenários, o do mercado americano pré-Copa e o da liga bilionária na Arábia Saudita.
Estivesse ele livre no mercado, é claro que os movimentos de seu estafe seriam por aí - se é que já não tem namoro. Temo que cada novo capítulo interfira no ambiente em algum momento decisivo.
Como se viu lá na Fonte Nova, de onde o Grêmio já poderia ter saído classificado, mas Suárez teve de desistir no aquecimento. E se não fosse Cuiabano, ao apagar das luzes?
Para o bem ou para o mal, que a novela se resolva de uma vez.