De repente, o comentarista e ex-jogador Roger Flores se ergue de uma das bancadas do Centro de Imprensa do Lusail Stadium, e solta a bomba, muito antes das escalações de Portugal e Suíça saírem.
— Vocês já sabem, né? Cristiano Ronaldo começa no banco.
Caio Ribeiro, ao meu lado, leva um susto. Assistíamos ao finzinho do tempo normal da epopeia de Marrocos contra a badalada, porém inexperiente, Espanha. Ele não acredita. Nem eu, devo admitir.
— Como assim? Sério? — pergunta o Caio.
— Lógico, pô! Brigou lá com o técnico e tá fora — devolve o Roger, já sentando-se à sua mesa, de costas para a gente.
— Mas….é oficial isso? — insiste Caio, que não podia acreditar
Aí Roger cresce e tira onda, o que, com sotaque carioca, fica mais engraçado.
— Não interessa se é oficial! Tenho minhas fontes lá (risos). Não vai jogar e pronto!
Roger jogou no Benfica, e o substituto da maior estrela midiática do futebol, que ficou no banco pela primeira vez em sua quinta Copa, era justamente um jovem benfiquista. Eis de onde ele tirou a informação. Pois não é que Gonçalo Ramos, o usurpador, centroavante de 21 anos, 1m85cm, virou o nome do jogo, com três belos gols na goleada de 6 a 1 sobre a Suíça? Quero ver tirá-lo do time.
Pois os gols de Gonçalo não impediam o público de vir abaixo quando os quatros megatelões, no alto da cobertura do Lusail, mostravam quem todos queriam ver. Cara de poucos amigos, CR7 não parecia feliz. Cenho fechado, como se estivesse envergonhado. Ficou no banco porque discutiu com o técnico Fernando Santos, o "Felipão" de Portugal. Este tem cacife.
O experiente treinador não gostou de como CR7 falou com um jogador coreano, ao final da derrota na primeira fase. Chamou-lhe a atenção. CR7 detestou ser repreendido e bateu boca. Duvido que esperasse um troco tão pesado. Santos mostrou quem manda. Em Portugal, uma enquete do jornal A Bola deu 70% de apoio à polêmica decisão. Duro foi explicar à torcida árabe.
Fui de metrô ao Lusail. Quando o silêncio dos portugueses era demais, certo que vinha. Alguém gritava:
— Siiiiiiiiiimmm!
O povo repetia em um berro poderoso, que ecoava pela estação. Os milhares de árabes que foram ao Lusail estavam lá por Cristiano, e não por Portugal. O telão o flagrou pegando água para tomar no banco, na volta do intervalo. O animador do Lusail se enganou. Quando o viu de pé, achou que fosse entrar:
— Lá vem ele!!
Que gafe. Aos 15, 18 e 20 minutos do segundo tempo, o estádio ecoou:
— Naaaaaaldôô! Naaaaaaldôô!
E Fernando Santos nem tchuns. Quando Gonçalo Ramos fez o seu terceiro gol, de cavadinha, aí mesmo é que a torcida gritou mais forte:
— Naaaaaldôôô!
Finalmente, faltando 15 minutos, o técnico o chama. Senhores, não houve loucura parecida em nenhum dos gols de Portugal. Cristiano entra no lugar de Gonçalo, que não recebeu um mísero aplauso mesmo marcando três gols. Falta na entrada da área! Seria agora o gol de CR7? As pessoas erguem os celulares para filmar. Na barreira.
Quase no fim do jogo, ele arranca e… gol! Um indiano ao meu lado no estádio começa a chorar. O VAR anula. O indiano soca o chão de cimento. Fim de partida. CR7 consola os suíços e desce para o vestiário. É o primeiro a sair de campo. Não vai festejar com a torcida, como o técnico pede.
Um dia para a história. Cristiano Ronaldo no banco, reserva como qualquer mortal, vendo Portugal colocar a Suíça na roda sem precisar dele para nada e o seu substituto demolindo a Suíça. Decididamente, essa Copa está bem estranha.