A entorse no tornozelo de Edenilson ao sofrer o pênalti no finzinho da goleada sobre o Juventude evitará, se de fato o volante ficar fora contra o Corinthians, o reencontro dele com Rafael Ramos, a quem acusou de injúria racial no Beira-Rio.
Descobriu-se que leitura labial não tem método científico possível de ser usado em juízo. Virou guerra de perícias. As contratadas pelo lateral corintiano o absolvem. A Rádio Gaúcha ouviu um especialista que atestou a versão de Edenilson. Na esfera criminal, ainda não se sabe se o MP abrirá processo ou arquivará, já que obviamente não houve acordo entre as partes. Na esfera esportiva, o STJD adiou o julgamento. Já se passaram 70 dias.
Temo que o caso de Felipe Pires, do Juventude, não dê em nada. O tempo vai correndo e a tendência, independentemente da atuação rápida do Inter em parceria com o Juventude, além do bom trabalho do Jecrim e da delegada Ana Caruso, é ficar por isso mesmo. A impunidade ou a falta de esclarecimento dos fatos vai minando a luta antirracista no futebol, pois desestimula denúncias.
Para que se expor, se a regra tem sido não dar em nada e até lançar suspeitas sobre a vítima? O único ponto salutar deste episódio triste foi a nota do Inter. Talvez tenha passado despercebida, mas a mensagem contida no texto é diferente do padrão e oferece um pequeno passo adiante.
A nota ampara em 100% a versão da vítima, que ouviu a palavra "macaco", apesar do risco de prejudicar ao clube. Não fala em "suposta injúria" ou "somos contra o racismo, mas vamos esperar a investigação". A nota crava que a injúria existiu.
Abraçar a vítima não é condenar o acusado previamente de forma irresponsável. Para isso há o inquérito, onde as partes são ouvidas. O que não pode é a perversidade do contrário: já sair duvidando da acusação em um país com a carga histórica de séculos de escravidão. No Brasil, quem denuncia racismo só perde. Vira vilão rapidamente. Imagine que você é assaltado e vai registrar ocorrência. É correto que, na delegacia, algum funcionário te receba como se você estivesse mentindo?
O racismo estrutural é maquiavélico.
