A goleada do Inter sobre o Juventude, na noite desta segunda-feira (30), foi marcada por mais um episódio de racismo no futebol brasileiro. O atacante do time de Caxias do Sul Felipe Pires acusou um torcedor colorado de ter cometido injúria racial nos minutos finais finais da partida disputada no Beira-Rio. Os dois prestaram depoimento no Jecrim e o caso segue em investigação pela 2ª Delegacia de Polícia Civil de Porto Alegre. GZH explica o que pode acontecer na esfera desportiva.
A acusação feita por Felipe Pires foi citada na súmula do árbitro Bruno Arleu de Araujo, do Rio de Janeiro. Arleu foi avisado do caso pelo delegado da partida, Paulo Ricardo Machado Santos, e informou a identificação e o encaminhamento do torcedor para o Jecrim.
"O referido jogador, quando se dirigia ao seu banco de reservas, acusou um torcedor que estava na arquibancada atrás do banco de sua equipe, onde estavam posicionados torcedores do Internacional, de tê-lo ofendido com ofensa racista com a seguinte palavra: 'Macaco'.", diz o trecho da súmula.
Com a citação na súmula, cabe à procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidir se irá oferecer denúncia contra o Inter. O artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) para casos de injúria é o 243-G fala "sobre praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".
O fato de o ato ter envolvido apenas um torcedor e ele ter sido identificado, porém, favorece para que o Inter não sofra uma punição com perda de mandos de campo, por exemplo.
— Como o torcedor não faz parte da cadeia associativa (não é jurisdicionado), ele não pode ser julgado e punido. Já o clube pode, com base no CBJD, art 243-G, que fala em "atos discriminatórios". Agora, como o ato foi praticado por apenas um torcedor, com o clube agindo imediatamente, identificando e retirando o responsável do estádio é provável que não seja punido — observa o jornalista e advogado especialista em direito esportivo Andrei Kampff.
O advogado do torcedor colorado afirmou que seu cliente nega ter cometido o ato de injúria. A alegação é de que ele é amigo de Rafinha, o jogador do Juventude que entrou no lugar de Felipe Pires, e que teria gritado para o atleta que estava ingressando na partida alguns palavrões.
— Os amigos que estavam com ele vão depor como testemunhas. É um menino de 21 anos. Está assustado, mas tranquilo. Ele disse desde o primeiro momento que não falou (a frase com conotação racista). (Falou) Algo na linha do "Vamo, Rafinha. Car***". Todos sabemos o que ele falou (palavrão). É amigo de infância do Rafinha (atleta do Juventude). São meninos de Caxias do Sul, colorados, que vieram ver um amigo infância — declarou o advogado Bruno Scheidemandel Neto.
Diferente do que aconteceu, no caso entre Edenilson e Rafael Ramos, por exemplo, nesta segunda-feira não houve uma prisão por flagrante por falta de provas. A investigação seguirá com novos depoimentos de testemunhas. Apontado como amigo do torcedor acusado por Felipe Pires, Rafinha não foi ouvido no Jecrim.