Está errada, muito errada, a CBF. A entidade que manda e desmanda no futebol brasileiro parece alheia aos efeitos do coronavírus na economia da bola rolando. Vai empurrando com a barriga, apenas mediando reuniões aqui e acolá, decidindo pouco quando era o momento de liderar o processo na defesa de quem a sustenta: os clubes.
Nem tanto os grandes, mas os médios e pequenos. Uma linha de crédito que fosse, ao menos para pagar jogadores. A esmagadora maioria recebe salários baixos, alguns perto do mínimo. E olhe lá. Os clubes, de massa ou não, estão fazendo a sua parte, disponibilizando espaços para hospitais de campanha e cumprindo determinações sanitárias.
Bem, e os jogadores dos grandes times da Série A?
O que estão fazendo em conjunto, enquanto classe?
Resposta: perdendo uma chance histórica de ganhar o respeito e o aplauso das pessoas não só pelo que fazem em campo.
Do ponto de vista individual, muitos estão ajudando, sobretudo no apoio às medidas sanitárias, seguindo orientação dos médicos e recomendando recolhimento. E no plano coletivo? Nessa questão de rejeitar uma redução de 25% dos salários até a crise passar, a mensagem é ruim. Parece-me gol contra. Se ninguém abrir mão de um pouco agora, talvez não recebam nada lá na frente. E os que já sofriam com atraso, então? Melhor desistir mesmo.
BOM SENSO FC- O Bom Senso FC, esboço fracassado de uma entidade de classe forte dos atletas, para além de questões sindicais, morreu porque não houve envolvimento em número suficiente de astros da ativa. Motivos? Medo de represálias do sistema, quem sabe atrapalhando uma transferência para Europa. Ou de atrasar a chance daquele grande contrato no Brasil, capaz de mudar a vida da família, não raro pobre e sofrida. Não julgo. É complicado. A maioria no movimento, de ótimas intenções e poucas ações práticas, era de aposentados ou em vias de pendurar chuteiras. Essa recusa na redução salarial temporária, em meio a uma crise mundial que mata, vale reflexão.
DEMOCRACIA CORINTIANA - Jogador rico, classe A, o dos carrões e luxo e das grifes caras, parece que só se une quando é a sua batata que está assando. Na hora do bônus, ok. E o ônus? Não pode abrir mão de um pouquinho do salário alto para a roda seguir girando, se vários recebem na casa dos três dígitos? Não ficarão pobres, mas só menos ricos - ainda assim durante dois meses, talvez três. Na Alemanha, há clubes cortando salários sem pedir licença. E, ainda assim, se vê craques fazendo doações de milhões de euros a hospitais, como Messi, Neuer, Lewandowski e Salah. Saudade da Democracia Corintiana, que ganhou o respeito do país sem nunca pedir nada para si, mas atuando em causas nacionais e populares.