Está acontecendo com o Inter exatamente o que se previa no começo do Gauchão. Aos poucos, com o ritmo e a sequência de jogos, o rendimento iria melhorar. Foi assim no 2 a 1 em Caxias do Sul, contra o Juventude. Nunca é simples ganhar no Alfredo Jaconi. O jogo foi equilibrado em termos de finalizações, chances de ataque e também belas defesas dos goleiros, mas a qualidade dos jogadores do Inter fez toda a diferença.
Os gols de Nico López e de Pedro Lucas são resultado de belíssimas jogadas. Nenhum atacante do Juventude acertaria um sem-pulo como o do uruguaio, após lançamento perfeito de Edenilson. Na segunda etapa, o time de Odair Hellmann foi bem superior. A parte física e a intensidade, marcas do ano passado, apareceram.
O Inter poderia ter vencido por diferença maior se tivesse um tanto mais de apuro no último lance. Mas, pelo primeiro tempo, o resultado final diz bem o que foi a produção em campo. A estreia na Libertadores é dia 6 de março, fora de casa, contra São Paulo, Talleres, Palestino ou Independiente Medellín. Aí vão algumas observações do jogo no Alfredo Jaconi que indicam a evolução do Inter, apesar de ainda insuficientes para uma Libertadores como protagonista.
ESQUEMA
Não é mais o 4-1-4-1, e sim o 4-2-3-1. Vem sendo assim, ao menos. Alguns movimentos ainda não têm a fluidez necessária, mas aos poucos Rodrigo Dourado vai se acostumando em nem sempre estar postado à frente da zaga. Com o tripé de volantes, ele ficava. Patrick e Edenilson faziam o papel de internos. Agora, Dourado alinha com Edenilson. Alternam os avanços à frente. No segundo tempo, em Caxias, Dourado avançou menos, enquanto Edenilson subia em todas. Isso porque um avanço de Dourado gerou contra-ataque perigoso do Juventude, quando ele perdeu a bola. Depois, se acertaram.
MARCAÇÃO
O Inter tem de redefinir encaixes de marcação, enfim. Mesmo que Odair insista com Patrick, por exemplo, em vez de Neilton, ele fará função de extrema, ainda que com mais virtudes de marcação. Isso é natural em mudanças de esquema, mas já se vê evolução nisso.
TRANSIÇÃO E SARRAFIORE
Uma outra questão segue a mesma do ano passado: com ou sem D'Alessandro, o Inter terá de melhorar a transição ofensiva. É preciso criar mais por baixo, e isso não é só tarefa do argentino, quando estiver em campo. Não existe mais isso de um só jogador armar o time, enquanto um outro só desarma, um terceiro só corre pelo flanco. é uma tarefa coletiva. Gostaria de ver Sarrafiore mais tempo em campo no laboratório de testes do Gauchão para ver até onde ele realmente pode chegar. Em tese, a qualidade no passe é sua grande arma.
NEILTON
Ele foi destaque no Alfredo Jaconi. Não só pela jogada do segundo gol, de Pedro Lucas, mas porque cumpriu papel tático. No primeiro tempo, ele desarma no ataque e dá o passe para Nico López quase abrir o placar, bem no começo da partida. Estava atento na recomposição, pela esquerda. No 4-2-3-1, os jogadores de lado têm mesmo de ajudar sem a bola. Do contrário, se não voltarem, o adversário criará vantagem numérica no setor e a chance de desarrumação da defesa é grande. É normal, neste esquema, zagueiros ficarem mais no mano a mano, caso do lance em que Cuesta comete a falta em Braian. Todos têm de marcar. Como Neilton tem o drible, algo essencial no futebol, Odair Hellmann tenta acrescentar nele a parte defensiva.
ZECA E IAGO
Iago está mais participativo. No entanto, precisa retomar o padrão técnico de quando surgiu. Não pode dar duas vezes de canela, uma para errar o gol dentro da área do adversário e em outra para quase marcar contra na sua área, obrigando Marcelo Lomba a defender no reflexo. Em Libertadores, seria fatal. Seus cruzamentos não estão entrando. Zeca, na direita, parecia travado. Era sua primeira partida no ano desde o início. Espera-se mais de um campeão olímpico, que exalava qualidade quando apareceu no Santos.
No novo modelo tático do Inter, os laterais são muito importantes. Se eles não dialogarem com os extremas, nada feito. Quando o extrema faz a diagonal, abre o espaço para o lateral passar. Do contrário, eles têm de participar da troca de passes, por dentro, como se fossem meias. O Inter não deve desistir de Zeca, claro. E nem mesmo de Iago, o que não exclui um período na reserva, por exemplo. Jovens da base oscilam. É assim mesmo.
PEDRO LUCAS
Não se trata de demonizar Tréllez, mas de meritocracia. O campo está mostrando um colombiano inoperante com mais tempo no time. O time o procura, pelo alto ou por baixo, mas a bola bate e volta. Não há retenção. Enquanto isso, o jovem da base faz pivô, dá assistência e marca gol entrando alguns minutos, como no Alfredo Jaconi. O gol dele parece fácil, após a jogada de Neilton, mas ele se desprende do zagueiro com um movimento de corpo para receber livre e empurrar para a rede.