Diogo Vitor é um dos tantos jovens talentos formados no CT Meninos da Vila, sede da base do Santos. Não bebe da mesma cepa de Robinho ou Neymar, mas o clube aposta nele. Ou apostava. Vai depender do tratamento. Aos 21 anos, o talentoso meia atacante foi flagrado no exame antidoping. Após um tempo sumido e negando tudo, finalmente admitiu. Estava se divertindo com os amigos em uma festa quando experimentou cocaína.
Nada de chás ou produtos para o cabelo. Cocaína pura mesmo. Houve tempo em que um caso assim seria notícia nacional durante dias, quiçá semanas, de tão raro. Hoje, é bem possível que logo ali adiante ninguém lembre mais, e carreira de Diogo Vitor sequer seja prejudicada em termos de imagem. O problema único, gigantesco, descomunal, passa a ser o vício, capaz de devastar um sonho em meses, ainda mais em um trabalho que depende do corpo como o futebol. Ele jura que usou a droga só uma vez. Ainda assim, haverá outras festas animadas com amigos. E aí?
Na virada do milênio, ao perceber que o número de testes positivos aumentava, publiquei em ZH uma série de reportagens sobre o tema. Durante a apuração, confrontando dados com médicos especialistas em dependência química e profissionais do esporte, deparei-me com algumas novas realidades. Começava a se consolidar a prática dos salários de três dígitos nos maiores clubes brasileiros. Primeiro, só para os melhores. Em seguida, com a entrada do business e das cotas milionárias de TV, para qualquer um. R$ 100 mil virou salário mínimo.
O que atrai a droga é o dinheiro. Ela não faz distinção de classe social, escolaridade e, o mais grave, faixa etária. A oferta é sempre maior em ambientes endinheirados, como passou a ser o dos jogadores. Descobri e confirmei o caso de um jogador conhecido à época. Não citei o nome, claro. Ele se tratou e, após deixar o futebol gaúcho, jogou na Europa e ainda fez sucesso em São Paulo. Entrevistei um menino que, no intervalo de um jogo na chamada várzea vip de Porto Alegre, que tinha patrocínio no nome, recebia pagamento dos traficantes que bancavam o time em pó, no vestiário.
O então goleiro Danrlei, submetido a dezenas de exames, todos negativos, revelou-me ter indo a festas nas quais garçons ofereciam carreiras de cocaína em bandejas, com o canudinho para inalação ao lado. Não consumia, mas via. O depoimento mais revelador foi o de Renato, à época técnico do Fluminense. Olhando agora para o caso de Diogo Vitor, vejo que ele acertou na mosca, em tom profético. Renato contou que, no seu tempo de jogador, já era um jovem adulto quando a droga aparecia. Tinha mais discernimento para tomar decisões e dizer não. Bons tempos.
Há quase duas décadas, Renato já recebia adolescentes das categorias de base que admitiam ter tido contato com drogas ao menos uma vez. Hoje, a fortuna chega antes dos 20 anos, e a droga rastreia dinheiro. Nem falo de exceções como Pato, Vinícius Jr. ou Arthur. Os empresários detectam promessas, oferecem serviços e pagam bem muito antes delas chegarem ao time principal. Várias nem vingam, mas forram os bolsos ainda imberbes.
Algumas perderão a única chance na vida se os clubes brasileiros não pensarem seriamente na prevenção lá atrás, na mais tenra escolinha. O Santos conseguirá remediar, com Diogo Vitor? O combate às drogas, esta praga que destrói sonhos e mata aos poucos, exige o esforço de todos.