Quando a bola rolar na vida da Seleção em sua 21ª Copa do Mundo, às 15h deste domingo no Brasil, 21h para nós, aqui na Rússia, os olhares do planeta estarão nos protagonistas. Quem são eles? Você já sabe: Neymar, Phillipe Coutinhio, Gabriel Jesus e Marcelo. Mas e Willian, que fecharia o quadrado de homens de ataque, porém com missão defensiva pétrea com condição para o conjunto funcionar? Hoje, ele é menos protagonista do que Marcelo.
Normal que seja assim, mas anote aí o nome dos alicerces desta escalação. Sem eles, o prédio cai. Sem eles no auge e incansáveis, o sonho do hexa se perderá em algum canto do maior país em extensão do planeta. Falo de Casemiro e Paulinho. Antes de começar de fato a correria oficial e os rigores de segurança em torno da Seleção no balneário de Sochi, entrei no Suissôtel Resort, luxuoso seis estrelas que abriga a delegação.
Era o dia seguinte da chegada da Seleção à Rússia. A programação recém havia mudado. Em vez de treino, folga geral. Jogadores e integrantes da comissão técnica circularam à paisana. Fomos entrando, Zé Alberto Andrade, Leonardo Oliveira e eu, o trio de volantes que acompanhará todos os passos da Seleção na cobertura multimídia da RBS. Ali, encontrei Cleber Xavier, o braço direito de Tite, sentado no sofá, à espera de Matheus, filho de Tite, e de Fábio Mahseredjian, o preparador físico. Iam caminhar pela cidade.
Já no dia seguinte, cancelas e policiais nos barravam a 300 metros do saguão. Mas na véspera ficamos ali, batendo um papo precioso com um cara que adora falar e ouvir a opinião das pessoas sobre futebol. Talvez seja esse o segredo dele e de Tite, uma dupla mais afinada do que maestro e violino spala. Os dois falam, mas também ouvem. Eis aí uma prática infelizmente em desuso neste mundo de intolerância e sentenças definitivas em cinco segundos. Ali naquela conversa informal, ficou muito claro a importância de Paulinho e Casemiro para a engrenagem toda funcionar. E também suas funções.
Casemiro tem de ficar mais atento ao lado esquerdo. Entre as linhas, o volante, que faz a mesma função no Real Madrid, tem de prestar mais atenção às costas de Marcelo, seu parceiro de clube. Entrosamento natural. Ele pode ter de ajudar Willian e Danilo do outro lado, eventualmente. Mas é ali, como protetor de Marcelo e, fundamentalmente, de Neymar, que Casemiro será essencial.
Caberá a Paulinho ser o outro alicerce defensivo. Com a credibilidade de quem nunca desistiu dele mesmo quando estana China, chamou Paulinho e disse:
– Quero você diferente de como jogava comigo no Corinthians. E também na Seleção, em 2014.
O próprio Paulinho confirmou esta orientação, durante a semana.
– O Tite pede para eu ficar mais, pegando o jogo bem de frente. Temos o talento do Phillipe Coutinho. Então é para ele sair mais. E aí eu dou proteção.
Claro que não é uma regra estanque. Há até uma brincadeira entre os jogadores. Quando, nos exercicíos de finalização, os atacantes não marcam o gol dentro da área, um deles larga o bordão, se Tite ou Cleber cobram a pontaria:
– No jogo o Paulinho sempre aparece e dá um jeito.
Com sete gols, o patinho que chegou feio ao Barcelona e virou cisne, constrangendo críticos precipitados, só é menos artilheiro na Era Tite do que Gabriel Jesus (10 gols) e Neymar (9). Não está proibido de entrar na área, mas o suporte a Coutinho é sua missão essencial. Casemiro, o escudeiro de Neymar (e Marcelo). Paulinho, o escudeiro de Phillipe Coutinho. Eles serão os fiadores táticos do talento atacante que, no instante final, sempre decidiu para o Brasil. Talvez não brilhem para as câmeras mas, quando entrarem no vestiário após cada batalha na Rússia, Tite os receberá com holofotes acesos. O hexa, se vier, será coletivo. E passa por Casemiro e Paulinho, os proletários de luxo da Seleção.