Em uma frase, o empate frustrante da Seleção com a Suíça em sua estreia na Copa da Rússia pode ser resumido da seguinte maneira. Com ou sem erros de arbitragem, ainda que tenha merecido vencer pelo volume de jogo, a atuação não foi a de um candidato ao título. Este é o ponto. Era ingenuidade achar que seria barbada, se a Suíça vive boa fase e sempre complica com os grandes. Esperava-se um Brasil capaz de mostrar credenciais como um dos favoritos, mantendo sua sequência ascendente de atuações contra um adversário sempre complicado, mas infinitamente inferior. E isso, de fato, não aconteceu.
Mas daí a entender que está tudo errado de uma hora para a outra é caso de internação por diagnóstico de bipolaridade. O empate pode até ser bom no sentido de cortar pela raiz qualquer chance de excesso de confiança. Se este 1 a 1 com a Suíça servir para acender uma luz em cada jogador de que a Copa é diferente de tudo, terá valido a pena. Ainda mais porque o Brasil teve mais volume e merecia ter vencido, apesar dos pesares. É hora de identificar o que não funcionou e corrigir. Das 19 faltas sofridas pela Seleção, 10 foram em Neymar. Se ele não segurasse tanto a bola ou tentasse sempre o drible, teria levado tantas faltas? Por que não o vez, ainda mais sem estar 100%? Outra questão é o desequilíbrio no ataque pelos lados.
Na esquerda, com Marcelo, Philippe Coutinho e Neymar, tudo acontece. Inclusive o golaço de Coutinho. Do outro lado, quase nada aconteceu. Parte do baixo rendimento de Willian se deve a inoperância de Danilo. A perda em relação a Daniel Alves foi bastante expressiva. O time ficou capenga em Rostov, às margens do Rio Don. Nunca será fácil marcar Marcelo, Coutinho e Neymar, mas saber que do outro lado os perigos são menores facilita a vida do time que tem de parar o trio. Por que o gol de empate suíço, numa falha conjunta de Miranda e Alisson, gerou tanto nervosismo e instabilidade, se o Brasil já passou por situações do gênero? Por mais craque que seja, Marcelo precisa tentar tantos passes de três dedos?
A Seleção não conseguiu imprimir o seu modelo de jogo de posse de bola e troca de passes. Esperava a Suíça na retranca, ao contrário de como vem jogando. O Brasil foi surpreendido por um time marcando no campo de ataque, nunca ficando só atrás. As mudanças de Tite não surtiram efeito. Um Renato Augusto sem ritmo, saindo Paulinho, não ajudou muito. A saída de Casemiro, mesmo com cartão amarelo, entrando Fernandinho, tornou o Brasil vulnerável ao contra-ataque. Tivesse a Suíça um atacante mais agudo, sei não. Firmino poderia ter entrado no lugar de Willian, que não fez bom jogo, em vez de Gabriel Jesus. Tite normalmente é cirúrgico nas trocas, mas desta vez não acertou a mão.
É hora de aprender com os erros da estreia e seguir em frente. A Alemanha perdeu para o México. A Argentina só empatou com a Islândia, um país cuja população cabe em um grupo de Whatsapp. A França suou sangue para ganhar da Austrália por 2 a 1. A própria Espanha não venceu Portugal, o exército de um homem só. A Copa não acaba para o Brasil em razão deste empate na estreia com a Suíça. Com serenidade e cabeça fria, sem achar que tem de trocar meio time por não vencer na estreia, pode ser até um bom começo.