O que aconteceu no Ba-Vi é o reflexo do Brasil. É como se estivéssemos diante do espelho. Nós é que construímos aquele cenário deprimente. A violência superou o diálogo como argumento, em todos os níveis. A agressão física e a ofensa verbal são as primeiras opções.
Ninguém quer resolver mais nada conversando. Cultua-se o uso da força e do xingamento como atos de coragem, quando na verdade é pura covardia. Habite as redes sociais e você verá vários Ba-Vis como o de domingo.
A barbárie do Barradão bebe da mesma fonte que autoriza o aluno a espancar a professora em sala de aula. Não é diferente das pessoas que saqueiam, rindo, a carga tombada durante o acidente na estrada, para desespero do caminhoneiro. Nem da aplicação de vacinas com a seringa vazia ou dos apartamentos inexistentes alugados por golpistas da Internet. Há algo em comum nestes casos: nenhum deles foi arquitetado políticos vilões que assassinam a inocência do virtuoso cidadão.
O brasileiro não quer o fim da corrupção. Não quer um Brasil mais justo e decente. Se quisesse, bateria panela contra Michel Temer da mesma maneira que bateu contra Dilma Rousseff. E os que antes condenavam os panelaços, mas agora são a favor sem nem enrubecer?
O que mudou, se a corrupção é a mesma? Só os inquilinos do poder, à esquerda e à direita. A indignação é seletiva. Não é sincera. A régua moral do brasileiro é baixa. Em um país que fecha escolas e constrói presídios, muito natural que assim seja. O Ba-Vi não é fenômeno isolado.
No futebol, houve um tempo em que chinelos, pilhas, sacos de urina e aparelhos de rádio eram arremessados no gramado. Era assim até os clubes começarem a ser denunciados e condenados. Hoje, quando muito, voa um inofensivo copo plástico. A punição é educativa.
Crianças que viram a briga em Salvador precisam ter certeza que tudo ali é vergonhoso, e a lição virá se os agressores tomarem gancho. Os jogadores do Vitória que revidaram a socos uma provocação na hora do gol do Bahia, reação desproporcional ao gesto de Vinícius, têm de ser punidos pelos tribunais esportivos e pelo próprio Vitória. Vinícius merece, no mínimo, multa da direção do Bahia. O bolso doído é bom conselheiro.
A festa na hora do gol é livre, mas se ela ocorre na frente da torcida adversária e simulando ato sexual, é óbvio que se torna ofensa. Os responsáveis pela expulsão premeditada no próprio time, para encerrar a partida por insuficiência de jogadores, têm de ser desmascarados no Vitória. Nesta segunda-feira surgiu leitura labial indicando que a ordem foi de Vagner Mancini. Ele nega.
O que os cartolas fazem, via de regra, é deixar o assunto sair da mídia para depois abafá-lo. Tomara que eu queime a língua. A certeza da impunidade apunhala o respeito e esfarela o princípio da autoridade. Deixar o dito pelo não dito equivale a banalizar a barbárie. Se passarmos a conviver com o soco na cara como argumento e acharmos que isso é aceitável no confronto de opiniões e ideias, aí é mesmo o fim.