Contei, outro dia, no Timeline da Gaúcha, de um café da manhã que tomei em Erechim. Eu estava lá para escrever meu primeiro livro, sobre o “Caso Daudt”. Estava sem muito dinheiro, por isso escolhi um hotel simples. Eu havia pedido demissão do jornal em que trabalhava para escrever aquele livro, num típico caso de fé no pressentimento, algo que vive me acontecendo.
Então, lá estava eu num hotelzinho de viajantes, pronto para tomar o meu primeiro café da manhã da estadia. Cheguei à sala do café, sentei-me e senti o odor que dominava o ambiente. Era cheiro de pão quente, feito na hora. Aquilo me entorpeceu. Em seguida, veio a mulher, a garçonete, e colocou na minha frente queijos, salames, manteigas e schimiers.
—Como o pão, é tudo feito aqui— informou.
Por fim, ergui-me para me servir de um café preto, porém sincero e, ao aterrissar na minha mesa outra vez, já estava diante de mim a olorosa cesta de pães. Eram seis da manhã, eu estava numa cidade distante, num pequeno hotel de viajantes, sem saber se atingiria meu objetivo, com pouco dinheiro no bolso e sem emprego, mas, ah, como me senti feliz.
Eu cortava fatias da espessura de um dedo do Mike Tyson daquele pão e espalhava a manteiga com uma faca. O pão estava tão quentinho que a manteiga se derretia e penetrava nele. Dava-me vontade de espalhar mais manteiga, muito mais, mais e mais, mas não, eu era cirúrgico naquele instante: deitava nele uma fina fatia de queijo, duas rodelas de salame, talvez três, e dava uma mordida feliz, temperada com um gole do café forte, porém sincero.
Na segunda fatia, não repetia o mesmo procedimento. Não. Espargia a manteiga, sim, é claro que sim, seria louco se não o fizesse. No entanto, antes do queixo e do salame, eu untava a fatia com uma parede generosa de schmier de uva, ou de amoras ou de morangos. Só então acrescentava queijo e salame e comia.
Oh, eram alegremente calóricos meus começos de manhã em Erechim, e eu agradecia a Deus por isso. Saía do hotelzinho com muito mais confiança. Acho que foi essa confiança que me ajudou a convencer o então prefeito da cidade, Antonio Dexheimer, a me conceder a entrevista que seria o cerne do livro. Um homem deve estar bem alimentado quando vai fazer algo importante na vida. Meus últimos dissabores de saúde, tenho certeza, são frutos do uso exagerado do microondas e da teleentrega.