Não existe povo de direita ou povo de esquerda, nem jamais existiu ou existirá. Para o povo, isto é, para a maioria da população de um país, tanto faz. Em geral, as pessoas não se importam muito com quem está ocupando o governo, desde que elas vivam bem.
Esse é o grande trunfo dos populistas. Eles convencem as pessoas de que elas viverão bem, se eles estiverem no poder. Então, para elas pouco importa os pecadilhos deles, populistas. O presidente fez isso ou aquilo de errado? Fez, mas, pelo menos, na época dele eu tinha uma boa vida.
Essa é a lógica da campanha de Lula à Presidência. Lembro de um famoso vídeo que rola na internet com o lulista de primeira hora Juca Kfouri declarando, em tom de crítica, não de elogio, que “o maior presidente do Corinthians foi Lula”:
— Foi por causa da existência de Lula que o Corinthians construiu o CT que construiu, que construiu a Arena que construiu, que não era para ser paga. A Arena era um presente da Odebrecht. Só que, em meio ao presente estar se consumando, houve a Operação Lava-Jato, e essa Operação Lava-Jato exige que o Corinthians pague aquilo que o Corinthians não pagaria. Porque o plano era a manutenção dos governos do PT e a Odebrecht ser compensada pelo presente que deu ao Corinthians.
Essa fala do petista Kfouri resume a Operação Lava-Jato e grande parte dos ilícitos que foram cometidos nos governos do PT. Mas Kfouri não deixa de ser petista por isso. Ao contrário. Ele acha que vale a pena porque, de alguma forma, os pobres ganharam com Lula.
Curiosamente, os aloprados que pedem a volta da ditadura fazem o mesmo raciocínio. Com Médici havia pleno emprego e o Brasil crescia 10% ao ano, as pessoas andavam pelas ruas em segurança, o crédito educativo financiava as faculdades dos pobres e o BNH financiava suas casas. É verdade que havia, também, censura e tortura, mas isso era muito vago para a massa da população.
Bolsonaro tentou empregar a mesma fórmula com o Auxílio Brasil, mas a conjuntura internacional não o ajuda como ajudou Médici e Lula. A crise é mundial. Mas pode ter certeza: se a crise passar e o Brasil voltar a crescer, crescerão na mesma proporção os índices de popularidade de Bolsonaro.
O fato é que a população assiste quase com indiferença à troca de mando. Ela está preocupada é com os seus problemas. O que, aliás, é uma imensa sabedoria. Porque não existe uma única fórmula econômica para um país dar certo. Depende do momento. Às vezes, é preciso dar mais liberdade ao Mercado; às vezes, é preciso fortalecer o Estado para regulá-lo.
O que é certo e imutável é que nenhuma estratégia funciona a longo prazo se não houver boa educação básica. O destino do Brasil, como o de qualquer outro país, se forja dentro da escola. Fora dela, o que existe é a luta encanzinada de elites intelectuais pelo poder e a pastosa indiferença da massa.