Não sinto orgulho das minhas ignorâncias. Aquela história de, ao estar diante de algo novo, a pessoa com desdém:
– Nunca ouvi falar.
A intenção é diminuir a importância da novidade. Em alguns raros casos, pode até funcionar. No ótimo seriado The Crown, eles contam uma história deliciosa sobre o casal Charles e Diana: ele, Charles, estava de aniversário e, para comemorar, os dois foram ao teatro. Só que ela preparara uma surpresa. Em meio à apresentação dos atores, cochichou no ouvido do príncipe que precisava ir ao banheiro, saiu e não voltou mais. Quando ele estava ficando preocupado, ela reapareceu no palco, dentro de outro vestido, junto com um dançarino. Os dois dançaram Uptown Girl, de Billy Joel, em homenagem ao perplexo aniversariante. No seriado, é um Charles sombrio que a vê rodopiando no palco, obviamente devastado pela inveja da própria mulher, que faiscava diante de grande parte da alta sociedade londrina.
No dia seguinte, a performance de Lady Di foi festejada pelos jornais. Lendo um deles no café da manhã, a rainha Elizabeth comentou:
– Billy Joel?
Ao que o príncipe Philip, espantado, reagiu:
– Você não sabe quem é Billy Joel?
Para Billy Joel, deve ter sido chato não ser conhecido pela rainha da Inglaterra. Ele constatou que não é tão famoso assim. Mas acontece que provavelmente você não é a rainha da Inglaterra. Então, quando você confessa não saber de algo, está confessando apenas a sua falta de conhecimento, e não diminuindo a relevância deste algo.
Enfrento esse dilema quase todos os dias, ao participar do programa Timeline, da Gaúcha. Nós temos um grupo de WhatsApp em que tratamos das pautas do programa. Não raro, o pessoal da produção apresenta uma sugestão de entrevistado de forma entusiasmada e eu, ao ler aquele nome, vejo-me obrigado a perguntar: “Quem é essa pessoa?”
Fico com raiva de mim mesmo quando isso se repete, porque mostra como conheço cada vez menos coisas do mundo. Porém, ah, porém, sou obrigado a admitir que criei um mecanismo para me proteger. Uma espécie de autoindulgência justificada. É que, sério, são muitas informações para absorver. Os caminhos da internet, por exemplo, são tortuosos. Às vezes, uma aparentemente simples inscrição em um canal para assistir a um seriado me rouba horas do dia e esmigalha minha paciência. Só que a internet é obrigatória. Hoje, a gente vive através da internet.
Assim, minha opção é descartar certas novidades. Faço uma edição, como se estivesse no jornal: escolho o que acho melhor e o que resta vai para o lixo. Pronto. Acabou. Não penso mais naquilo. Tem sido esse o destino de muito do que dizem os políticos brasileiros. Faço uma triagem: se é vanglória ou agressão, descarto. Nem leio, não me dou o trabalho de ver o vídeo ou ouvir o áudio. Só presto atenção ao que dizem os normais, os que não prometem salvar a pátria, os que não amam políticos. Há coisas demais no mundo. Não tenho tempo a perder com fanfarrões.