Sérgio Moro não caiu em desgraça por causa das mensagens hackeadas. Nem por causa da sua atuação na Lava Jato.
Sérgio Moro caiu em desgraça porque deixou a magistratura para ingressar no governo Bolsonaro.
Essa decisão foi um erro tão estrondoso que comprometeu não apenas sua própria imagem; comprometeu a luta contra a corrupção no Brasil.
Sérgio Moro, em certo momento, havia se tornado um símbolo. Ele representava a mudança: o Brasil agora tinha um sistema que punia quem cometia ilícitos, não importando de quanto dinheiro ou poder o infrator usufruísse.
Foi exatamente aí, nessa unção de Sérgio Moro, que o mecanismo da corrupção encontrou a fresta na muralha que o cercava. Porque desmoralizar um homem é muito mais fácil do que derrotar um sistema imparcial, que funciona por si, como uma máquina. O homem pode ser destruído; o método fica.
Assim, Moro foi elevado a uma estatura que não possui. Olhe bem para ele. Olhe. Ele não tem carisma. Ele é uma figura quase anódina. Até porque foi treinado para se comportar de acordo com os ritos processuais. Moro é a própria formalidade. Nunca fez uma declaração arrebatada, nunca perdeu a linha, nunca emocionou ninguém com um discurso ou um gesto. Mesmo assim, os inimigos da Lava Jato o promoveram a líder de uma complexa conspiração política, tendo inclusive a suposta participação de órgãos da inteligência dos Estados Unidos.
Peço mais uma vez: olhe para Moro. Observe-o bem. Você acredita que este homem, só com sua vontade, conseguiria derrubar um governo que estava havia 12 anos enraizado no poder e, de quebra, desmontar uma histórica articulação entre o Estado e as grandes empreiteiras, uma engrenagem que funciona no país inteiro há cinco séculos? Esse discreto juiz de primeira instância tinha tamanha força?
Não. A resposta é não. Moro só é super-homem nos bonecos de Olinda.
A criptonita de Moro foi sua vaidade. Ele acreditou que era o salvador da pátria. E, pior, acreditou que, depois de fustigar os políticos como jamais aconteceu na história do Brasil, poderia se consagrar tornando-se um deles. Posso ver Moro chegando à Brasília e os políticos, juízes e empreiteiros esfregando as mãos de contentamento.
Essa é uma história cheia de lições. Uma delas, sobre o cuidado que devemos tomar nas decisões estratégicas. Erros cometemos todos os dias, mas um único deslize estratégico pode causar dano irreparável e comprometer uma vida. Pense bem, portanto, quando você estiver com vontade de fazer uma mudança de rumo brusca. O melhor é ponderar, ouvir opiniões, ser cauteloso.
Outro ensinamento que essa história nos dá é a respeito do Brasil. O Brasil se adapta, mas não muda. Como a água, que toma a forma do recipiente que a contém, o Brasil “evolui” de acordo com a evolução dos tempos, sem jamais deixar de ser o que sempre foi. O Brasil é maleável, flexível e, ao mesmo tempo, inamovível. No Brasil é inútil lutar. Porque, no fim, eles vencerão.