Um dia, uma amiga me contou que havia acordado nua, numa cama estranha. Na noite anterior, ela fora a uma festa e talvez tivesse bebido demais. Não lembrava como saíra do lugar, só lembrava que estava alegre e que se sentia sensual.
Então, corta.
A cena seguinte era aquela: ela com-ple-ta-men-te nua, nuinha, nuíssima, numa cama que não conhecia, num quarto que não conhecia, num apartamento que não conhecia, com ninguém por perto para contar o que, afinal, acontecera.
Adorei a história da minha amiga e escrevi um pequeno conto baseado nela, e o publiquei em Zero Hora.
Doutra vez, outra amiga fez um desabafo acerca de seu namorado. Ela gostava do rapaz, estava tudo certo com ele e entre eles, exceto por um ponto: o sexo. Não que o sexo fosse ruim, nada disso, não era. Mas era imutável. Ele sempre começava beijando-a na boca e, em seguida, apalpava-lhe o seio esquerdo, para depois descer em direção ao entrecoxas. Sempre, sempre, sempre esse roteiro. “Por que ele não varia?”, minha amiga perguntava. “Por quê?” Ela estava aflita.
Também sobre esse drama escrevi um continho, e o publiquei em Zero Hora.
Houve um tempo em que explorei bastante essas histórias, o que me dava boa satisfação. Depois, mudei. A gente muda, o mundo muda, não dá para fazer tudo do mesmo jeito o tempo todo, como fazia o namorado da minha amiga. Mesmo assim, me orgulho dos meus contos e crônicas a respeito de mulheres e sei que os leitores se divertiam com eles.
Por isso, elegi o tema “mulheres” para uma publicação especial que será lançada em breve. Mas não só esse. Há outros. Aí é que está. A Ana Karina, uma das poderosas editoras de GZH, me ligou, dias atrás, pedindo que selecionasse quatro temas para uma espécie de livro virtual que GZH vai lançar com meus textos. São 20 crônicas ou contos de cada assunto.
Essa proposta me mobilizou. Porque considerei importante escolher bem as quatro áreas que reivindicava a Ana Karina. De alguma forma, essa definição me definiria. Quais são minhas zonas de interesse? Bem você sabe que atuo constantemente na política e no futebol, mas a política não me comove. Ao contrário, sinto certa repulsa pela maneira como agem os políticos brasileiros.
De futebol eu gosto, mas não é do que MAIS gosto.
Livros, talvez? Ah, decerto que vivo cercado de livros. O livro é o único objeto que cobiço e compro com vontade. Volta e meia sinto ganas de escrever listas de livros preferidos ou trechos de romances ou contos ou crônicas ou até de poemas. Que tal Pronominais, do Oswald de Andrade?
“Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro”.
Há diversos elementos que aprecio nesse poema, mas não escrevo a respeito, porque não sou crítico literário. Nem de cinema, como é o meu amigo Ticiano. Assim, não posso relacionar o cinema e o livro como temas favoritos da minha escrita. Não são, ainda que tenha paixão por ler livros e assistir filmes.
Quais seriam, então, os outros três assuntos que me definiriam?
Revelarei, leitor, e, fazendo assim, revelo muito de mim. São os seguintes:
Amigos, comida e filho.
Sou um cara que gosta de comer bem. O que não é qualidade, é característica. Mas, ainda que eu não preste para nada mais, sei que possuo dois predicados nessa vida: sou um amigo leal e um pai dedicado.
Portanto, se quiser me elogiar, pode dizer isso de mim, caro leitor: “Ele é bom pai, ele é bom amigo. E foi um esforçado ponta-direita recuado nos tempos do IAPI”.