Sonhei com uma panela, no fim de semana. Antes que você me critique, quero dizer que concordo com a crítica: uma pessoa contar sobre seus próprios sonhos é a maior chatice. Se tem algo que considero insuportável é alguém começar: “Tive um sonho estranho essa noite...” Quando ouço isso, já olho para o lado, esperando que a pessoa perceba que não estou interessado no sonho dela. Mas não adianta. Ela quer muito relatar em pormenores tudo o que sonhou. Aí desanda a narrar: “Eu estava no meu apartamento, mas ao mesmo tempo não era o meu apartamento. Então, de repente, o apartamento sumiu e eu estava numa praia, uma praia linda e deserta e...”
Ave Maria! Por que é que as pessoas acham que outras pessoas vão querer saber essas coisas? Os psicanalistas ganham, e bem, para ouvir essas histórias. Por que tenho de ouvir de graça?
Na abertura daquele seu famoso livro, “A Interpretação de Sonhos”, Freud escreveu que “todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que possui um significado e que pode ser inserido como um ponto designável nas atividades mentais da vida de vigília”.
Quer dizer: todo sonho tem um sentido oculto na vida do sonhador. Não sei, não. Tenho cá minhas dúvidas. Em todo caso, se Freud estivesse certo, eu não perderia tempo investigando qual é o significado psíquico de uma panela. Seria aborrecido demais.
E é por isso que estou aqui escrevendo a respeito: não por causa do sonho, não vou chateá-lo, amado leitor, contando um sonho, mas por causa do tema do sonho. Porque é um desperdício sonhar com uma panela.
Por que não sonhar, por exemplo, com a Megan Fox? Ou, talvez, um sonho mais nacional, como a Marina Ruy Barbosa e a Ísis Valverde. Isso, sim, seria um sonho!
A propósito, deixe-me dizer uma coisa, adorado leitor: essas duas, a Marina e a Ísis, são as mulheres da década. Quiçá, do começo do século. Porque elas combinam formosura com malícia e manemolência. Elas sentariam com você e os amigos numa mesa de bar e beberiam chopes cremosos até de madrugada e jogariam as cabeças perfeitas para trás ao gargalhar das piadas indecentes que por ventura fossem contadas. Não duvido que elas próprias contassem piadas indecentes.
Marina e Ísis. Isso, sim, seria um sonho. Mas uma panela! Não tem cabimento.
Acordei-me levemente agastado por ter sonhado com aquela panela. Não quero que isso se repita e estou tomando providências. Uma vez, li em algum lugar que aquilo em que você pensa, quando está prestes a dormir, em geral se torna assunto de seus sonhos. Venho elaborando, portanto, uma lista de bons pensamentos a fim de me cevar com eles durante as madrugadas.
Em meus sonhos, quero estar na minha casa de madeira, uma casa aconchegante, em que sempre haja alguma comida boa e quente no fogão. Haverá um grande pátio, na minha casa, com um grande pastor alemão brincando sob as parreiras e uma horta da qual colherei especiarias e árvores frutíferas e uma rede pendurada entre dois troncos dessas árvores. Nos fundos do pátio terei a minha biblioteca e lá poderei ler desde os gibis do Tex Willer até os clássicos, tenho muitos clássicos para ler e reler. Haverá uma geladeira, na minha biblioteca, onde guardarei as cervejas para partilhar com os amigos, quando eles vierem ver o jogo comigo. Talvez eu jogue uma ou duas partidas de xadrez, na minha biblioteca, e, de vez em quando, sairei pela rua, cumprimentando os vizinhos, jogando conversa fora, deixando o sol esquentar meus ombros e esticando um pouco as pernas. Farei tudo isso, nos meus sonhos. Acompanhado de Ísis e Marina, evidentemente.