Bolsonaro se jactou de ter acabado com a Lava-Jato. Não me surpreende. Eu sabia que esse seria um dos movimentos prioritários de seu governo. Bolsonaro é um político tradicional, pertencente ao velho e carunchento mecanismo de poder que comanda o Brasil há cinco séculos. Não poderia fazer de outra forma.
Não foram poucos os presidentes que, para vencer a eleição, disseram o mesmo que ele disse: que era o novo, que não fazia parte do sistema, que enfrentaria a antiga ordem. Assim foi com Jânio Quadros, que, não por acaso, tinha como símbolo uma vassoura, que varreria os corruptos para o lixo. Assim foi com Collor, o “Caçador de Marajás”. Assim foi com Lula, um operário que proclamava existirem “300 picaretas” no Congresso Nacional e que pregava: “Tem que ter recall de político”.
Jânio e Collor, de fato, chegaram a romper com o sistema. E o sistema rompeu com eles. Rompeu mesmo: arrebentou-os em pedaços. Ambos se tornaram figuras esmaecidas do passado antes da metade de seus mandatos.
Lula, não. Lula foi mais esperto. Aliou-se com os 300 picaretas e refestelou-se com eles. O símbolo dessa promiscuidade foi a cena de Lula abraçando Maluf com carinho e com afeto, sob a assistência sorridente de Haddad. Para arrematar, há aquele famoso vídeo em que ele diz que até se emociona quando fala do amor que Sérgio Cabral sente pelo povo.
O que houve de novo, realmente, na política brasileira, foi a Lava-Jato. Lembro dos meus tempos de Famecos, quando o professor Marques Leonam disse, certa noite: “São personagens como Norberto Odebrecht que mandam no Brasil, sempre mandaram e sempre mandarão”.
Recordo com clareza do Leonam dizendo isso, e todos nós concordando e lamentando: o Brasil nunca mudaria.
Pois mudou. Sobrenomes como Odebrecht e Andrade Gutierrez foram alcançados pelo longo braço da lei, e também políticos poderosos no Legislativo e no Executivo.
Mas as coisas não ficariam assim. A reação, um dia, viria. E veio. Lentamente, disfarçadamente, mas veio. E, na construção dessa reação, todos se juntaram. Todos: Lula, Bolsonaro, Renan Calheiros, ministros do Supremo e até parte da imprensa, todos se arvoraram como defensores das liberdades individuais e trabalharam em consórcio para manietar os órgãos de investigação e repressão que os acossavam.
Neste momento da reação não existe esquerda nem existe direita, não existem fascistas nem comunistas, não existem petistas, bolsonaristas ou tucanos. Não existem ideologias. Não existem crenças. Existem, tão-somente, eles.
Eles, leitor. Eles, meu irmão brasileiro. Não se deixe iludir por eles. Às vezes eles parecem diferentes, mas eles são iguais. Eles são os mesmos, com os mesmos interesses, os mesmos métodos, a mesma cobiça. Eles se unem, quando são ameaçados. Eles se unem para manter tudo como está, tudo como vem sendo há 500 anos. Eles, meu irmão. Eles! Como diria meu velho professor, eles mandam no Brasil, sempre mandaram e sempre mandarão.