Assisti ao jogo do Inter da minha casa e o Potter da casa dele. Aos 18 minutos do primeiro tempo, Moisés recebeu a bola livre pelo lado esquerdo e entrou na área com autoridade de conquistador, como se fosse Maomé II devassando as muralhas de Constantinopla. Alguma coisa importante ia acontecer. Aí ele se atrapalhou com as próprias pernas, a bola bateu no pé que não deveria bater e escorreu melancolicamente pela linha de fundo. Fiquei imaginando a cara do Potter ao ver aquele lance, já que ele é um analista severo das atribuições que cabem aos laterais-esquerdos.
Mandei uma mensagem para ele perguntando se havia quebrado algo em casa e, assim que terminei de enviá-la, Moisés recebeu a bola de novo na mesma posição, só que enquadrou o corpo com graça, como se fosse uma Gisele, e cruzou na testa de Thiago Galhardo: gol.
Mandei outra mensagem ao Potter, dizendo que Moisés se redimira, e não é que, enquanto conversávamos, ele não tomou a bola outra vez e mandou um chute torto em direção à avenida Padre Cacique? O Potter comentou:
“Pronto, ele já voltou ao normal”.
Depois do jogo, Coudet deu entrevista comentando não especificamente a respeito de Moisés, mas a propósito da qualidade do grupo do Inter em geral. Segundo ele, não há recursos suficientes para jogar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores ao mesmo tempo Duas horas depois, a 1.725 quilômetros de distância, Renato fez um comentário parecido, para justificar a derrota do Grêmio: “É o preço de se jogar duas competições”.
Quer dizer: ambos os treinadores identificam o problema. Nenhum dos dois apresenta soluções. É como o médico que diagnostica o mal, mas não sabe ministrar a cura. O doente não tem esperança de salvação, mas sabe do que está morrendo. Não sei se é uma compensação.