Não sei como é que Churchill conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo. Além de toda a sua conhecida atividade política, ele foi um historiador prolífico. Já falei de um de seus livros que tenho cá, nas minhas estantes, A História da Segunda Guerra Mundial, em 10 alentados volumes. É um belo relato em primeira-mão de um dos grandes protagonistas desse período trágico da história do mundo. O autor não é isento, claro, mas que autor é?
Churchill ganhou o Prêmio Nobel de Literatura por sua obra. Ou seja: foi muitíssimo bem-sucedido como escritor.
Em certo momento da vida, ele decidiu tornar-se pintor, sobretudo para combater a depressão, que sempre o atormentou. Foi Churchill o primeiro a definir a depressão como “um cão negro”, e hoje essa metáfora é bastante usada até por profissionais da área.
Os quadros de Churchill em geral são paisagens de estilo impressionista. São bem bonitos. Também como pintor ele se saiu bem.
No segundo volume de A História da Segunda Guerra Mundial, há um capítulo intitulado “Em apuros”. Churchill começa assim:
“Naqueles dias de verão de 1940, depois da queda da França, nós ficamos inteiramente sós. Nenhum dos Domínios Britânicos, nem a Índia, nem as Colônias, poderiam enviar auxílio decisivo, nem mandar o que possuíam nessa época. Os enormes exércitos alemães, vitoriosos, completamente equipados e dispondo de amplas reservas de armas capturadas, bem como de arsenais, na retaguarda, procediam a concentrações, para vibrar o golpe final”.
Durante todo aquele verão europeu, junho, julho e agosto, só o que se falava, na Inglaterra, era da possibilidade de uma invasão alemã. Os ingleses esperavam e se preparavam para o pior. Em 11 de setembro, Churchill discursou em cadeia nacional de rádio. Descreveu com pormenores a situação da guerra e finalizou desta forma:
“Precisamos considerar a próxima semana ou a seguinte como um período muito importante da nossa história. Estamos na mesma situação daquele dia em que a armada espanhola se aproximava do canal e Drake acabava de terminar o seu jogo de bolas, ou da ocasião em que Nelson se interpôs entre nós e o grande exército de Napoleão em Bolougne. Lemos tudo isso em nossos livros de história, mas o que está acontecendo agora é em escala muito maior e com consequências mais graves para a vida e o futuro do mundo”.
O alerta de Churchill mobilizou os britânicos, eles resistiram e o pior não aconteceu.
Agora, nós, gaúchos, estamos passando por um momento semelhante. Estamos vivendo o período mais grave da nossa história. A guerra contra a peste chegou a um ponto de inflexão. Teremos semanas decisivas pela frente. Podemos ser invadidos e submetidos. Ou podemos nos mobilizar e enfrentar o mal.
Não importa mais se os governantes acertaram ou erraram. Não importa mais o que foi feito. Já levantei esse debate, mas, hoje, ele é inútil. O que importa é que precisamos nos concentrar nesses próximos dias. Temos de fazer o que fizemos em março e abril. Pelo menos isso. Temos que reunir o que nos resta de energia e força. Que ninguém saia de casa, se não tiver de sair. E, se sair, que seja de máscara. A restrição mais relevante a ser feita hoje, pelo poder público, é à circulação de pessoas sem máscara. A máscara é o escudo contra esse invasor invisível. Temos de usá-la e fazer com que os outros usem. Temos de tomar cuidados todos os dias, toda hora, por mais um pouco.
Mais um pouco.
Resiliência. Precisamos de mais um tempo de resiliência. Não podemos nos render, como insistia Churchill. Vamos resistir. E vencer.