O prefeito Marchezan deu entrevista à Rádio Gaúcha em razão do aniversário de Porto Alegre, na manhã desta quinta-feira, e, lá pelo fim da conversa, o Daniel Scola fez a pergunta que hoje fermenta na cabeça de todos os terráqueos:
- Até quando?
Isto é: até quando vão se estender as medidas de isolamento social no combate ao coronavírus?
É claro que o prefeito não sabe, ninguém sabe, nem o Trump, nem a Merkel, nem o Mandetta, mas ele fez uma previsão:
- De três a quatro meses...
Ouça a entrevista com o prefeito Nelson Marchezan
Bem.
O prefeito não estava se referindo ao chamado lockdown completo, ele admitiu algum relaxamento, mas, mesmo assim, quando ouvi essa estimativa, me engasguei com o café. Porque fiquei imaginando o pior: a doença se agravando e o país tendo de ficar fechado por tanto tempo. Seria um desastre. Um confinamento de três ou quatro meses, mesmo que seja realista do ponto de vista da luta contra a doença, é irreal do ponto de vista da realidade do cidadão brasileiro. Não porque as pessoas vão ficar ansiosas ou irritadas. Não. É porque, segundo dados do IBGE de 2018, 44% dos brasileiros vivem na informalidade. Ou seja: eles dependem do que ganham a cada dia. É a diarista, é o eletricista, é o hidráulico, é a manicure, é o vendedor ambulante, é o motorista de aplicativo, é o barbeiro, é o sapateiro. E, além deles, há o dono da banca de revistas, o da ferragem do bairro, o da padaria, a moça que abriu um brechó na rua em que mora.
Falar em meses de inatividade econômica, para essas pessoas, é falar em despejo de suas casas, em filhos passando fome, em outras doenças além do coronavírus.
Não estou dizendo, com isso, que o isolamento deva ser interrompido. Repito: NÃO ESTOU DIZENDO QUE O ISOLAMENTO DEVA SER INTERROMPIDO!
Agora, as pessoas PRECISAM se manter em reclusão, a fim de que DÊ TEMPO às autoridades para que sejam melhoradas as condições do sistema de saúde.
Esse é o ponto central: o isolamento, por si, não salvará ninguém de contrair o coronavírus no futuro. Mas o isolamento pode salvar quem contrair, porque essa pessoa, se sentir os sintomas da doença, encontrará hospitais em condições de atendê-la.
Então, o que as autoridades têm de fazer é trabalhar objetivamente na melhoria do sistema de saúde. Pensando no pior cenário possível, um cenário italiano, é necessário definir a quantidade de médicos, enfermeiros, respiradores, leitos de hospital, máscaras, tudo o que tiver de ser empregado no tratamento das pessoas infectadas. Depois de concluído esse levantamento, a pergunta a ser feita é: quanto custa? E em seguida: como reunir essa importância?
Sei que o governo do Estado e alguns empresários já estão fazendo algo neste sentido, mas as autoridades têm, agora, de dar um alento à população. Se não podem estabelecer uma data exata, que deem perspectivas, como a possibilidade de liberação de algumas atividades, dentro de algum tempo, se esses ou aqueles objetivos forem atingidos. As pessoas não podem simplesmente ficar no escuro, escondidas em casa, esperando por uma situação ideal que elas não sabem qual é.
Neste momento, todos devemos ficar em casa, sim. Mas temos de saber o que está sendo feito para que, em breve, possamos sair.