O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, garantiu, nesta quinta-feira (26), que as medidas para evitar a proliferação do coronavírus seguirão em vigor na cidade, independentemente das falas recentes do presidente Jair Bolsonaro. O prefeito de Porto Alegre diz que a orientação de Bolsonaro para que as atividades econômicas sejam retomadas em todo o país não será seguida na Capital porque não tem fundamentos científicos.
– Evidentemente, (reagi) com um pouco de surpresa. Não uma surpresa total, porque o presidente tem alguns atos inusitados. E, não vou dizer com indiferença, porque ele é o presidente da República, mas escutando algo que não tem nenhum embasamento científico, nenhuma evidência em nenhum outro país ou grande cidade do mundo. Alias, os países e as cidades que iniciaram entendendo que as pessoas deveriam se contaminar voltaram atrás. A Itália, que demorou bastante (para restringir a circulação) em virtude do medo que a economia tivesse reflexo, agora está sofrendo de forma incomparável. Escutei a mensagem do presidente, mas ela não vai ter nenhum reflexo nas nossas ações. Continuamos alinhados com o governo do Estado, com municípios da Região Metropolitana e com o Ministério da Saúde – disse Marchezan, ao programa Gaúcha Atualidade.
O prefeito também avalia que as falas recentes de Bolsonaro influenciaram lideranças locais que passaram a pressionar pela redução das restrições. Marchezan voltou a afirmar que a prioridade em Porto Alegre será a preservação de vidas, e que as medidas de socorro à economia devem ser tomadas pelo presidente.
– Tínhamos uma união do país inteiro. Com a manifestação do presidente, alguns começaram a mandar mensagens. Um grupo de lideranças e até parte do empresariado passou a defender o que não estava defendendo antes. Todos estavam entendendo essa situação e, agora, começa um movimento no sentido de que as pessoas vão morrer e que não podemos matar a economia. No nosso ponto de vista, não temos o direito de escolher quem vai morrer e a ordem de que vai morrer. Portanto, as ações do município seguirão no sentido de salvar vidas. Se alguém pode ajudar na economia com ações efetivas é o próprio presidente – disse Marchezan.
Medidas de isolamento podem durar quatro meses, estima prefeito
O prefeito também estimou que parte das medidas restritivas possam ser necessárias por até quatro meses. O objetivo é evitar que muitas pessoas precisem simultaneamente de internação, o que levaria o sistema ao colapso e, segundo Marchezan, aumentaria o número de mortes.
– O período médio que nós estamos vendo, para a gente poder diminuir aquela curva, aquela super demanda de hospitais, é que teremos algumas medidas de isolamento, não quero dizer que sejam todas... me parece que teremos três ou quatro meses de muitas dificuldades. Os óbitos vão aumentar, as demandas por leitos vão aumentar, e temos que manter isso em patamares suportáveis para evitar óbitos – acrescentou o prefeito.
Sobre as restrições na circulação de idosos, Marchezan explicou que mudou o decreto inicial para evitar questionamentos judiciais por parte do Ministério Público, que poderia alegar desrespeito ao direito constitucional de ir e vir. Pelo novo decreto, a circulação de idosos está proibida apenas em parques e praças, com multas de até R$ 429,20. No decreto anterior, já revogado, também estava proibida a circulação desse grupo em outros espaços públicos da cidade. Segue permitido o deslocamento de idosos para atividades essenciais, como atendimento médico e hospitalar, realização de exames, de vacinação, e compras em supermercado e farmácias.