Passei um mês no Brasil e vi coisas novas. Vi, por exemplo, que em Porto Alegre trava-se a luta imemorial da civilização contra a barbárie. Tome o exemplo do renovado Largo dos Açorianos. Assim que o espaço foi reaberto, parte da população o ocupou com entusiasmo. Quatro dias depois, vândalos o picharam. Mais 24 horas se passaram e a prefeitura consertou o estrago.
Ou seja: o porto-alegrense quer viver e festejar a sua cidade, mas as forças da ignorância continuam depredando, roubando e sabotando, não raro sem nenhum outro motivo que não seja o de experimentar o júbilo da própria tacanhice.
Acredito que a civilização vencerá, porque está em maioria, mas a selvageria às vezes pode provocar danos imensos com uma única iniciativa. Como ensina o futebol, destruir é muito mais fácil do que construir. É preciso cuidado, portanto. Parafraseando Thomas Jefferson, o preço da civilização é a eterna vigilância.
Nesse meu mês do lado de baixo do Equador, vi, também, pessoas aflitas. Há no ar uma urgência, um desespero para que o governo Bolsonaro funcione de qualquer forma. Esse sentimento, aliás, também é meu: quero muito que o Brasil volte a crescer, que todos tenham trabalho, saúde e paz. Só maus brasileiros desejariam o fracasso do país para que seu grupo político tivesse sucesso. Mas não é apenas por isso que os brasileiros andam angustiados. É por outra razão. Que descobri quando não poucos vieram me fazer um pedido curioso:
– Não fala mal do Bolsonaro, senão o PT pode voltar.
Políticos só podem ser festejados depois que se aposentam ou morrem. Antes disso, eles têm de ser fiscalizados de perto e sempre.
Quer dizer: não se trata exatamente de um aval a Bolsonaro, mas um medo pânico do retorno do PT ao poder. O que me leva a questionar: poderia o PT voltar?
Bem. Na política, a realidade está sempre em mutação, o que é confirmado hoje torna-se impossível amanhã, mas uma vitória eleitoral do PT seria ilógica. Se você olhar sem paixão nenhuma, verá que a figura imensa de Lula sugou todas as energias do PT. Não existe nenhum líder em formação, nenhum projeto político diferenciado, nada, a não ser a pauta do Lula livre e a oposição incondicional a tudo o que o governo fizer. É pouco. Na verdade, é nada.
Os brasileiros deveriam entender, portanto, que a reprovação a certos atos de Bolsonaro não corresponde à aprovação de qualquer ato do PT. E que políticos só podem ser festejados depois que se aposentam ou morrem. Antes disso, eles têm de ser fiscalizados de perto e sempre. Voltando a Jefferson, aquele homem sábio, lembre-se que, para que este país se transforme em uma nação, precisaremos continuar carregando o nosso fardo: o da eterna vigilância. Crítica e autocrítica, às vezes, só fazem bem.